Falta de maturidade

Ninguém, de rigor, está preparado – ou tem maturidade suficiente – para ser magistrado, sobretudo nos primeiros anos de judicatura, onde tudo é deslumbramento.

É mister  admitir, entretanto,  que há pessoas que amadurecem mais rapidamente que outras, quiçá em função mesmo do seu próprio caráter, de sua formação moral, baseada  nos ensinamentos ministrados no âmbito familiar. Essas são, quase sempre, ponderadas, equilibradas, do tipo que medem as palavras, que sabem a hora de dizer e calar, razão pela qual, rapidamente, conquistam o repeito dos seus iguais, sabido que a experiência ensina que a pior via para conquistar respeitabilidade é tentar “ganhar no grito”.

Se sou equilibrado ou não, se sou sensato ou não, nos meus julgamentos e na minha vida pessoal, confesso que não sei dizer. Admito, inobstante,  que, no passado, como qualquer noviço, aprontei algumas, por pura falta de maturidade. Tenho procurado, todavia,  há muitos e muitos anos, decidir com equilíbrio e viver em harmonia com o meu semelhante,  seja ele réu,  testemunha, advogado ou promotor de justiça.  Os que apostavam, por exemplo, que eu utilizaria a minha cadeira no pleno do Tribunal de Justiça para afrontar as pessoas, quebraram a cara. É que eu, diferente do que se possa pensar, não sou desse tipo, conquanto admita que sou muito intenso nas minhas convicções.

A verdade é que não sei me julgar. Eu deixo que as outras pessoas me julguem. Tenho convicção no entanto, que trabalho com o meu “desconfiômetro” ligado o tempo todo, para não dar vexame, não falar tolice e nem disputar poder e espaço com ninguém. Esse tipo de disputa não é do meio feitio.

Do meu ponto de observação consigno, no entanto, que  sou compelido a analisar, sem nenhum prazer,  a conduta de alguns semelhantes,  em razão do que, muitas vezes, tenho me surpreendido.  É que, tenho constatado, há pessoas para os quais o tempo parece não ter passado, que não amadurecem, que não perdem a oportunidade de  lançar pérolas na direção da plateia, muitas das quais deixam ele próprio – e a instituição como um todo – em situação vexatória.

A verdade é que, há, sim, em todas as corporações, quem não saiba – ou não consiga – se comportar com o necessário e inexcedível equilíbrio, quem não aceita ser contrariado, quem se precipita na análise de uma tese, quem não respeita os pontos de vista do congênere, ou quem, lamentavelmente, parta para o  ataque pessoal, quando se imagina agredido, para, só depois, constatado o erro, pedir desculpas. Desculpas apresentadas e aceitas,  não perde tempo:  na primeira oportunidade, comete os mesmos erros, ataca novamente, desrespeita o colega, sobretudo se há plateia para consumir as pérolas lançadas ao vento. E assim vai, aprontando aqui e se desculpando acolá, mas, de qualquer sorte, escrevendo, com linhas sinuosas, a sua  própria história.

Reafirmo que, infelizmente, em qualquer Corte de Justiça, durante os  julgamentos, verificam-se  condutas heterodoxas que nos deixam de mal com a opinião pública, o que é lamentável, pois, quem age assim, pode muito bem, às cegas, passar à ilharga dos fatos e do direito, vilipendiando, com essa postura,  o  quase sagrado dever  de bem  julgar.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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