Gênese da minha arrogância

Eu sempre busquei explicação para a minha proverbial fama de arrogante.

No Tribunal muitos diziam a mesma coisa: ele não pode ser promovido pois é muito arrogante. Eu sempre soube desses comentários e sempre me agastei  em face deles.

Vejo agora, dando busca nos meus arquivos, que muito da minha arrogância estava na incapacidade que eu tinha – e tenho – de  ficar calado diante de determinadas situações.

Nesse sentido, no dia 07 de abril de 2006, enquanto juiz da 7ª Vara Criminal, prestei informações em face do HC 6151/2006, relatado pelo então desembargador Mário Lima Reis, das quais destaco os seguintes excertos, verbis:

“[…] Entendo – e peço todas as vênias acaso discorde Vossa Excelência desse entendimento – que um pequeno excesso é sempre tolerável, máxime se se considerar que no Maranhão, diferente de vários outros Estados, as coisas foram feitas para não funcionar. De efeito, em todos os Estados procuram-se meios para que a Justiça responda aos anseios da sociedade com mais rapidez. Aqui, ao que constato, as coisas só pioram – e consideravelmente.

Nesta vara, da qual sou titular desde o ano de 1994, só tenho visto as coisas piorarem. Nada obstante me esforce, quase nada tenho feito. Ofícios vários já encaminhei – inclusive a Vossa Excelência – no sentido de melhorar as minhas condições de trabalho. Do Tribunal e da Corregedoria só se ouve silêncio, nada mais que silêncio.

O tempo passa, a sociedade evolui e nós, nesse pobre Maranhão, só vemos as coisas piorarem. Enquanto noutros Estados vemos, dias após dias, a produtividade dos magistrados aumentar, aqui, na contramão da história, vê-se a produtividade diminuir. E nada se faz! E não se reage!. E todos se mantém silentes, num mutismo que traduz, à toda evidência, o espírito dos homens públicos de nossa terra[…]”

Em face desse ofício recebi o silêncio como resposta.

É claro que nenhum desembargador, nem o presidente e o corregedor se sentiam confortáveis com essas minhas provocações.

É coisa mesmo de gente arrogante, pretender fazer funcionar o que muitos entendem que é melhor ficar como está.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

2 comentários em “Gênese da minha arrogância”

  1. Não é por outra razão que o Senhor é minha referência de homem público, no exato sentido do termo. Lendo esse artigo é de causar espanto a sua capacidade de ainda se irresignar com as dificuldades enfrentadas na sua atividade, mesmo após tanto anos de trabalho intenso na vida pública e de luta contra todo um sistema. Espero conseguir ter essa mesma disposição ao longo da minha vida, seja ela como servidor público, ou em qualquer outra função que venha a exercer.

    Um grande abraço!

  2. Meu amigo,

    De tudo que vc disse, nada é surpresa. Tenho o prazer e o privilégio de mantermos amizade e não preciso dizer que compartilho de suas ideias e posições. Só uma coisa me preocupa e faz com que post este comentário: sinto, por vezes como esta, seu cansaço. Sei e compreendo essa sua insatisfação e vontade, por vezes, de desistir. Mas tenha certeza, o número dos que não gostam de vc – na maioria, por inveja ou por não compartilhar dos mesmos valores nobres que defendes – é infinitamente inferior ao número dos que te admiram, têm como referência e esperança de dias melhores.
    Por favor, não desista, não deixe uma minoria ganhar o jogo. Todas as vezes que sentires isso, pense o seguinte: só eu estou falando isso, mas eu expresso o inconformismo da maioria, sem voz, logo sou muitos.
    Um grande abraço
    Sônia

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