O exemplo de Émile Zola

Tenho afirmado e reafirmado que não confio em quem não assume posição. É desconcertante ver alguém sobre o muro, esperando a hora conveniente para assumir uma posição. Mais desconcertante, ainda, é a postura de quem só assume posição no cochicho;  na hora do vamos ver, amarela, deixa o proscênio, desaparece como que por encanto, inventa um compromisso de última hora, um exame para fazer, uma consulta com hora marcada,  um dor de barrica. É dizer: o tipo que amarela, que é covarde, maria-vai-com-as outras.

A história não perdoa os covardes, os falastrões, os que são só de conversa mole. O tempo passará e dele só ficará, se ficar, a péssima lembrança, o péssimo exemplo.

Da história vem o melhor exemplo: Émile Zola; ele não teve receio de enfrentar o sistema, em defesa de um injustiçado. Foi perseguido e condenado por isso. Mas, em compensação,a história só registra a sua ação; não tem nenhuma relevância para história os que reagiram contra Zola, que, como sói ocorrer, caíram no esquecimento.

Emile ZolaPara ilustrar, publico excerto de um dos muitos libelos escritos por Émile Zola, em defesa do capitão Dreyfus (cf. J´accuse), vítima de uma grave erro judiciário, França, já aqui mencionado em artigo anterior

“[…]Nos massacres todos abrem mão do que possuem. E falo deles com a maior tranquilidade, pois não os amo e nem os odeio. Não tenho entre eles nenhum amigo que esteja perto do meu coração. Para mim são seres humanos, e isso basta[…]”.

Noutro excerto:

“[…]Mas, para a família do capitão Dreyfus, as coisas são diferentes, e quem  aqui não compreendesse, não se inclinasse, seria um triste coração. Entendam! Todo o seu ouro, todo o seu sangue, a família tem o direito e o dever de dá-los, se crê seu filho inocente. Nessa casa que chora, em que há uma esposa, irmãos e parentes de luto, só se deve entrar com o chapéu na mão; e somente os malcriados se permitem falar alta e ser insolentes. “Irmão do Traidor!” é o insulto que lança, à face desse irmão! Sob que moral, sob que Deus vivemos, então, para que isso seja possível, para que  pela falta de um dos membros seja reprovada a família inteira? Nada é mais baixo nem mais indigno de nossa cultura e de nossa generosidade. Os jornais que injuriam o irmão do capitão Dreyfus porque ele cumpre seu dever são uma vergonha para imprensa francesa[…]”

E tu, energúmeno, por que só falas pelas cantos?  Por que não assumes posição?

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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