O bom magistrado,na minha opinião,
Tem consciência de suas circunstâncias
Sabe que no direito vigora o primado da relatividade
Sabe que ninguém carrega nas costas uma mochila cheia de verdades
Sabe que uma decisão judicial tem que ser construida, pois sabe que não existe decisão prêt-à-porter
Sabe que o ponto de observação do intérprete faz toda diferença
Sabe que a neutralidade é impossível
Sabe que é preciso fazer uma leitura moral do texto legal
Sabe que a razão não pode ser instrumentalizada
Sabe que não se deve fazer juizo equivocado da realidade, sob pena de emitir juizo de valor também equivocado
Sabe que o legislador formula o texto mas não é dono do sentido do enunciado quando ele passa a ser interpretado
Sabe que norma jurídica é produto da interpretação dos textos legais
Sabe que a segurança jurídica está ligada à decisão judicial e não à norma em abstrato
Sabe que a moderna dogmática superou a ideia de que as leis possam ter sempre um sentido unívoco
Sabe que a interpretação da lei não é apenas um ato de conhecimento, de revelação do sentido da norma pré-existente, mas também um ato de vontade, de escolha de uma possibilidade entre as várias que se apresentam
Sabe que o conhecimento é próprio do homem, mas que nem todos os homens conhecem da mesma forma
Sabe que o direito não pode ser uma loteria
Sabe que o direito não se esgota na literalidade das normas
Sabe que a letra da lei é apenas o ponto de partida da atividade hermenêutica
Sabe que o direito deve ser interpretado evolutivamente, devendo o interprete conciliar velhas fórmulas com as exigências atuais
Sabe que o juiz não nega a importância da lei, mas deve interpreta-la à luz de determinados valores morais, notadamente a dignidade da pessoa humana
Sabe que a dignidade da pessoa humana não apenas um patrimonio pessoal, é uma patrimonio social
Sabe que e preciso superar o formalismo exagerado e criar uma cultura pós-posivista que a interpetração da lei deve ser temperada pela filosofia moral
Confesso que ainda não cheguei lá. Mas estou tentando.