É preciso cuidado com os excessos

200px-DpedroI-brasil-fullQuando sento para escrever, as palavras vão fluindo. Só depois de muitos dias, quando revisito o texto, é que me dou conta dos erros. Peço tolerância aos leitores do meu blog. Espero que se atenham mais às minhas mensagens que aos eventuais erros. Quando decido publicar a matéria em jornal, aí, sim, cuido de, na medida do possível, repará-los, com a ajuda de minha dileta e amada revisora Azenate.

Feito o registro, passo às reflexões.

Gosto de revisitar a história. Não passo um dia sequer sem ler um pouco sobre a nossa história. Ao ensejo, revisito, também, a minha própria história – profissional e de vida. É que, revisitando-a, posso ver aonde errei, aonde me excedi, para evitar que, no presente, eu venha a repetir os erros do passado.

No começo da minha carreira, por exemplo, cheio de poder, e muito novo, andei flertando com a arbitrariedade. Mas aprendi com os meus erros, com os meus excessos. Hoje, sou um homem comedido. Penso muito antes de falar, e não costumo agir impulsivamente. Não sou do tipo que não leva desaforo pra casa. Eu me orgulho muito mais das vezes que deixei a ribalta, que quando parti para o revide. Desaforos? Já os trouxe muito para minha casa. Provocações? As engulo. Não parto para o revide. Aliás, nem sei revidar. Injustiças? Já fui vítima de muitas, mas não perco o sono e nem guardo mágoa por isso. Vivo melhor assim. Sou feliz assim.

Não me orgulho, definitivamente, de ter me excedido alguma vez. Não tenho nenhum prazer em contar quaisquer das minhas estridências, das minhas arrogâncias. Quando lembro dos meus excessos, fico até abespinhado. Por isso, quando dou alguma palestra aos mais jovens, procuro sempre alertá-los para que tenham cuidado com os excessos. Arrogância, prepotência e estridência não conduzem a nada; quando muido, nos tornam antipatizados pelas outras pessoas.

Não é bom ser temido. Prefiro, claro, ser respeitado. É mais fácil conquistar, liderar com respeito e equilíbrio. O murro na mesa inflige medo, mas não impõe respeito. Portanto, quando me virem recuar, não imaginem que o faço por covardia; faço-o por pura prudência, sensatez e equilíbrio, que amealhei junto com os meus cabelos brancos. É que não nasci assim. Eu aprendi a ser assim. Eu gostava mesmo era de uma boa polêmica. Desafiar para ter o prazer de vencer era meu esporte favorito. Hoje, não me agasta a derrota, sobretudo para os que têm mais argumentos que eu, para os que se preparam mais que eu. A cada batalha perdida para os bons argumentos, redobro o meu tempo de estudo, para poder fazer bonito, afinal é bom estar preparado, saber argumentar, defender um ponto de vista, sempre com sensatez e equilíbrio, para não passar dos limites da boa, educada  e fraterna convivência com o semelhante.

A verdade é que qualquer pessoa com o poder nas mãos, mínimo que seja, tende abusar desse poder. Os nossos pais, por exemplo, abusaram muito do poder paterno. Muitos de nós temos as marcas desses abusos. Uns esquecem; outros, nem tanto. Felizmente, nas relações maternas e paternas há o tempero do amor, que a tudo supera, a quase tudo faz esquecer.

Todos têm conhecimento do tórrido romance entre D. Pedro I e Domitila de Castro, a famosa Marquesa de Santos, que infernizou a vida da princesa Leopoldina. Pois bem. Em setembro de 1824, a Marquesa foi barrada na entrada do Teatrinho Constitucional de São Pedro, onde se apresentavam os atores da Companhia Apolo e suas Bombinhas. As saber da notícia, D. Pedro deu ordens para que o intendente-geral de polícia, Francisco Alberto Teixeira de Aragão, nomeado por influência da própria Domitila, suspendesse as representações da peça teatral, despejasse os atores do edifício e mandasse queimar seus pertences numa fogueira em frente à Igreja de Santana (Laurentino Gomes).

Seguramente essa não é a passagem da história da qual pudesse se orgulhar o Imperador, como de resto não nos orgulha do mesmo modo. Todavia, fica o registro, não só para destacar a arbitrariedade, como também para deixar patenteado que não é de hoje que se confunde no Brasil o público com o privado.

 

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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