A quem interessa o descrédito do Poder Judiciário?

Essa não é a primeira e nem será a última vez que reflito sobre as mentiras, as maquinações e dissimulações de muitos dos nossos homens públicos; e assim o faço, porque me revolta, sim, a ação de alguns políticos brasileiros que se valem do seu carisma e/ou da sua história, muitas vezes forjada na mentira e nas promessas mentirosas, para levar o povo a ter uma visão equivocada dos fatos, levando-o a descrer nas já desacreditadas instituições brasileiras.

É triste e revoltante testemunhar próceres da política nacional, nos quais o eleitor confia, que bem poderiam dar a sua contribuição para depuração das práticas políticas nacionais, fazendo uso de seu poder de persuasão para introduzir na população incauta um sentimento de revolta e descrédito em relação ao Poder Judiciário, como vejo, nos dias presentes, até de forma leviana e irresponsável, em face da condenação de parte da cúpula dirigente do PT.

Felizmente, para os que têm capacidade de discernimento e não se deixam levar por discursos de ocasião, os fatos em razão dos quais foram condenados os mensaleiros são indiscutíveis, convindo anotar que a probabilidade de erros em um julgamentos gestado num colegiado é quase nenhuma; a menos que se imagine que a maioria dos ministros tenha se unido para uma decisão política, com o objetivo de massacrar uma corrente partidária, o que não é crível e nem aceitável sob qualquer ponto de observação. Ademais, todos nós somos testemunhas da história. Todo nós sabemos do que ocorreu, muito antes do julgamentos dos líderes do PT, graças a ação da mídia descomprometida, e ainda mais porque o julgamento foi televisionado e acompanhado por parcela relevante da sociedade, caso único nas sociedades democráticas. Todos nós assistimos aos debates, testemunhamos as discussões dos mais relevantes detalhes acerca da ação dos famigerados mensaleiros.

Por que, então, insistir em desprestigiar o julgamento? Por que fazer o papel de vítima? A quem interessa essa desfaçatez? Para onde desejam levar as nossos instituições? A quem interessa o seu descrédito?

Infelizmente, por essas e outras insanidades, por essas e outras dissimulações e posturas malsãs é que a nossa história tem sido construída à luz de mentiras e falácias, como se deu, por exemplo, quando da proclamação da República, quando se fez o povo creditar que, com ela, acabar-se-ia com o sistema de castas e privilégios, e que, daí em diante, ver-se-ia a construção de um futuro glorioso para o povo brasileiro, com menos injustiças e mais oportunidades.

Essas mentiras, ditas por muitos líderes, tinham o claro objetivo de enganar, ludibriar e iludir, tanto que, em poucos anos o que se viu foi o país mergulhado numa ditadura, sob o comando de Floriano Peixoto, conhecido pela alcunha “Marechal de Ferro”.

De outra banda, se é verdade que a proclamação da República deu-se sem derramamento de sangue, não é menos verdade que nos dez anos seguintes, em face de duas guerras civis (Revolução Federalista e Canudos), além da Revolta Armada, o sangue jorrou em profusão, resultado do choque entre as expectativas e a realidade do novo regime ; sangue derramado que pode ser debitado na conta dos que mentiras que contaram ao povo brasileiro.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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