Vítimas da propaganda oficial

Nós somos todos, de certa forma, vítimas da propaganda oficial; aqui e alhures. Nesse sentido o Maranhão não difere muito do resto do país – e do mundo.

Quem assisti a propaganda oficial do Estado, ou as notícias da imprensa chapa branca, tem a sensação de que vivemos no paraíso. Mas que vive aqui sabe em que mundo vivemos: de miséria, de violência, de descaso, de enriquecimento ilícito, de falta de perspectivas, etc.

Mas, como disse acima, isso ocorre aqui e em outros lugares, sobretudo nos países onde não há liberdade de imprensa e onde a história é contada como deve ser, ou seja, de acordo com os interesses de quem está, ou esteve, no poder.

Na China, por exemplo, na cidade de Shaoshan, li ontem, acho que no jornal Folha de S. Paulo, o culto a Mao Tse-tung chega às raias da adoração. Tem até quem o veja como santo milagroso, o que, convenhamos, é um despautério. Esses adoradores, decerto, não conhecem a História como conhecemos. Eles só conhecem a História oficial. Não sabem nada, por exemplo, da Grande Fome (1958-62) e dos horrores da Revolução Cultural ( 1966-76).

Mas a China, como disse acima, não difere muito do que ocorre em outros países e como a própria História Universal, sempre contada a partir dos interesses de quem as conta. Nesse sentido é preciso, sempre que possível, revisitar a História, a partir das informações de autores que não estiveram e nem estão a serviço do Poder, até mesmo para que sejam reparadas algumas injustiças que foram sedimentadas no inconsciente popular.

Exemplo. A minha vida toda ouvi que Nero era um incendiário. Hoje, já se sabe, que as coisas não se deram bem assim. Sabe-se, por exemplo, que Tácito e Suetônio, principais autores clássicos que tratam do grande incêndio em Roma, tinham ressentimentos políticos com Nero, daí que, como dizem alguns autores, cuidaram de construir uma narrativa impregnada de ressentimento.

A verdade é que, contada a história pela metade ou de acordo com interesses inconfessáveis, virou verdade absoluta o mito de que Nero, inclusive, ao tempo em que Roma ardia em chamas, tocava lira, observando de longe a destruição.

O certo é que, sendo verdade ou não, Nero passou para a história como anticristo, violador de virgens e mulheres casadas, mandou incendiar Roma e tocava Lira enquanto a cidade ardia.

Verdade ou mito?

Qualquer um que aprofundar o estudo da questão pode ser tomado de, no mínimo, muitas dúvidas.

O certo e recerto é que, como se faz com a história, nos dias presentes somos instados, pela propaganda oficial, a acreditar em mitos. Para não ser alienado, é preciso muito tempo dedicado à leitura, o que é inviável para a imensa maioria dos brasileiros, aos quais, nesse contexto, só resta mesmo assimilar a propaganda oficial, sem a mínima possibilidade de discernir o que é mito e o que seja realidade.

Fonte sobre Nero: Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo, de Leandro Narloch, Leya, 2013.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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