JURADO N. 2

É verdade comezinha que muitos fatos da vida passam ao largo do nosso controle. Ninguém escolhe, por exemplo, os genitores e o país onde vai nascer. Não temos o direito de escolher a nossa cor, os irmãos e os níveis de inteligência etc., disso resultando que, sem opção de escolha, só nos resta aceitar o que a vida nos impõe.

Não é o que ocorre, entrementes, com os dilemas morais, em razão dos quais somos instados a fazer uma escolha, tendo que suportar as consequências das opções que fazemos.

É sobre essa questão que me proponho a refletir, tendo como pano de fundo o filme Jurado nº 2.

Pois bem. Todos nós, em alguma medida e em algum momento da vida, já nos defrontamos com dilemas morais. Pense, por exemplo, nas incontáveis vezes que estivemos diante de uma situação que nos impunha denunciar ou não denunciar uma situação, mas que, sopesando, nos omitimos.

É assim que os dilemas morais surgem e nos acometem, ou seja, quando estamos diante de uma situação em que somos instados a decidir entre duas situações, sabendo que, ao decidir, de uma maneira ou de outra, vamos produzir uma situação eticamente censurável, como ocorre, por exemplo, quando se está entre torturar, ou não, um facínora, para evitar que realize o seu plano de, por exemplo, tirar a vida de inocentes.

É sobre essa questão que pretendo refletir, e o faço, aqui e agora, instigado pelo filme Jurado nº.2, disponível no streaming (Max e Amazon Prime), escrito e dirigido por Clint Eastwood, cineasta, produtor, e, também, ator famoso pelos seus papéis em filmes de ação, que, aos 94 anos, no seu último trabalho antes da aposentadoria, explora os limites morais e éticos do sistema judicial americano, num thriller /drama instigante, e muito bem avaliado pelo público e pela crítica, que acompanha o drama de Justin Kemp, interpretado por Nicholas Hoult, que está servindo em “jury duty”, o serviço obrigatório dos Estados Unidos que escala os membros do júri de casos criminais.

Justin Kemp, protagonista, é um homem de família que está passando por sérias dificuldades financeiras e acaba sendo confrontando com um enorme dilema moral, ao ser escalado para julgar um de homicídio, tendo vínculos definitivos com o evento, se colocando, em face dos fatos imputados ao réu, na situação de ser a única pessoa capaz de decidir pela sua condenação ou absolvição.

Sobre o filme, mais não posso falar para não dar spoiler, podendo dizer, no entanto, que o dilema moral nele contido leva o espectador a importantes reflexões acerca das armadilhas que a vida coloca em nossas caminhos e para as quais nem sempre temos uma solução pronta e acabada, levando-nos a dilemas existenciais muitas vezes insuperáveis.

São quase duas horas de projeção que levam o telespectador a pensar e repensar a vida, e a angústia de, em determinadas circunstâncias, ter que decidir assim ou assado, sejam quais forem as consequências de sua ação ou omissão, conquanto sujeito ao escrutínio de terceiros.

O filme, em face do dilema moral vivido pelo personagem central é um desafio à sua consciência, mas é, também, um soco no estômago do telespectador, instado, durante toda a projeção, a julgar a sua hesitação entre falar a verdade ou calar.

Confesso que, durante a exibição, fui tomado de uma enorme agonia, de me ver diante do mesmo dilema, sem saber ao certo como me comportaria, como agiria diante de tamanho dilema moral.

A conclusão a que chego, que é o que importa para essas reflexões, é que, diante de um dilema moral, como o vivido na ficção, ninguém sabe mesmo como se comportar, máxime se, em face do dilema, todas as decisões possíveis são moralmente erradas mas que, ainda assim, precisam ser tomadas.

É isso.

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