Impressionante como, com as redes sociais, estamos formando uma geração consumidora – e geradora – de mentiras; mentiras que vão das mais simples – com menos efeitos colaterais, portanto –, às mais graves, com consequências nefastas para a sociedade.
Os propagadores de mentiras se esmeram em divulgá-las nos grupos de whatsapp, onde estão os mais suscetíveis ao seu consumo, os quais, por abrigarem os mais radicais e sectários – de esquerda e de direita –, não estão, por isso mesmo, nem aí para a verdade factual subjacente, daí que replicam as inverdades sem medo de ser felizes, e sem a mais mínima preocupação com os efeitos deletérios de sua propagação.
Impressiona, ademais, como o ser humano – os radicais aos quais me reportei acima -, nos dias presentes, propaga mentiras cada vez com mais esmero. Impressiona, da mesma forma e na mesma medida, a facilidade e o prazer com que as mentiras são consumidas – pelos mesmos radicias – e, depois, disseminadas, como se fora algo natural e como se vivêssemos uma crise moral e comportamental para a qual eu, cá do meu lado, não vejo solução a médio prazo.
Nesse panorama, não me surpreende a habilidade que os criadores/disseminadores de mentiras vão se aperfeiçoando nessa arte, que tende a ser potencializada com a Inteligência Artificial, capazes de levar a equívoco de avaliação da veracidade ou mendacidade da veiculação até mesmo os mais atilados, os mais experimentados como eu.
Exemplo.
Vi, numa rede social, um vídeo de um ex-coach cumprimentando Donald Trump, dando a entender, pela oportunidade da veiculação, que o vídeo tivesse sido feito por ocasião da posse do presidente dos Estados Unidos.
Mesmo com toda experiência, mesmo calejado e ciente do histórico de esquisitices do ex-coach, olhei o vídeo e, em princípio, pensei: poxa, o cara é furão mesmo. Pensei, ademais: todos queriam essa proximidade e o cara, caladinho, como quem não quer nada, furou o cerco e se aproximou do homem mais poderoso do mundo.
Depois de tudo, depois da repercussão do vídeo, todos ficamos sabendo, pela jornalista Malu Gaspar, que foi feito bem antes e que foi veiculado na data da posse de Donald Trump exatamente para confundir a opinião pública, tanto que, questionado sobre a data do vídeo, o ex-coach não respondeu, a reafirmar que o afã era mesmo confundir, levar as pessoas a crerem numa mentira, qual seja, a de que teria tido o privilégio, que poucos tiveram, de se aproximar do homem mais poderoso do mundo, exatamente no dia de sua posse como o 47º presidente da maior nação do mundo.
E, assim, de mentira em mentira, replicadas incontáveis vezes nas redes sociais, levando o incauto a ter uma percepção equivocada da realidade, os mais espertos vão se mantendo em evidência, tirando proveito das mentiras que veiculam, consumidas, sem reserva, por uma horda de desinformados, radicalizados pela paixão política.
É isso.