A Síndrome da Toga Reluzente

toga-advogado

De um leitor do meu blog recebi o seguinte e-mail:

“Dr. Jose Luiz:
as vezes leio sua pagina na Internet e acho interessantes
alguns comentarios.
Gostaria de postar algo que nao se aplica a Vossa Excelencia
por ser um juiz trabalhador, mas sem citar nomes se aplicam
a alguns.
O que vou postar, gostaria de que nao fosse divulgado o meu
e-mail por ser um cidadao comum e ficar receoso de alguma reta
liaçao.
O tema é:
o Judiciario, A Sindrome da Toga Reluzente e o Brasil Colonial

Alguns juízes brasileiros sofrem de um grave distúrbio mental provocado pelo uso abusivo dos privilégios e mordomias a que fazem jus pela sua posição e pela lei: A Síndrome da Toga Reluzente.

Esse distúrbio atinge fortemente os magistrados que mergulham em seus desejos megalomaníacos mais profundos e passam a julgarem-se acima da lei e pessoas diferentes das demais.

Provocado pelo brilho intenso que suas togas emanam, ao farfalharem pelos corredores dos tribunais, feitos com mármores e granitos caríssimos; esse distúrbio é agravado pela impunidade e pelo extremo corporativismo da classe. Dizem os estudiosos que os sintomas aparecem inicialmente graças a extrema omissão das entidades de classe que se preocupam apenas em conseguir privilégios e arrecadar mensalidades; permitindo que profissionais atuando de forma incompatível com as boas práticas jurídicas se mantenham livres de aborrecimentos para advogar e até julgar.

Nos casos mais graves, a Síndrome da Toga Reluzente, provoca no seu portador a incrível sensação de que é um Deus entre os mortais. As vítimas dessa doença terrível acham realmente que são imunes a qualquer tentativa de tratamento ou de impedimento e que foram nomeadas pelo próprio Criador do Universo para ocupar a sua posição atual.

Infelizmente, não há um tratamento conhecido para essa síndrome tão grave. A única opção seria a internação em clínicas de segurança máxima para afastar esses indivíduos da sociedade e impedir que a síndrome se alastre entre os outros magistrados. Usando o exemplo dos irrecuperáveis para forçar os portadores da doença a buscar o tratamento logo que os sintomas apareçam. Há relatos de pacientes curados quando tratados com uma terapia inovadora de “choque de realidade” no início dos sintomas. No entanto, revelando-se ineficiente nessa área, a mentalidade reinante no Brasil ainda é a colonial. E, por aqui, se entende que um juiz realmente é um “ser especial” e diferente dos outros mortais que o cercam. Tendo direito a privilégios intermináveis e a impunidade total. Ao invés de internação nas clínicas de segurança máxima disponíveis ou de forçar o tratamento precoce dos que manifestam os primeiros sintomas; os brasileiros entendem apenas que o magistrado deva retirar-se do serviço com uma gorda aposentadoria. Isso é claro, apenas contribui para aumentar a intensidade dos sintomas e levar os doentes para níveis cada vez mais graves de manifestação da doença, alastrando a contaminação por vários níveis do Poder Judiciário.
Os atingidos pela estranha síndrome apresentam sempre os mesmos sintomas: começam a vender sentenças, participam de festas pagas por criminosos conhecidos ou por potenciais réus em ações que eles mesmos julgarão em algum momento de suas carreiras; atuam em conluio com lobistas e favorecem padrinhos políticos e autoridades que desejam “dar um jeitinho” em suas pendências com a lei. A síndrome parece afetar diretamente o lóbulo frontal e o córtex cingulado anterior (as partes do cérebro responsáveis pela moral, emoções em relação a outras pessoas, caráter e pela percepção de dilemas).

No auge da doença, os pacientes mostram-se dominados por uma imaginação extremamente fértil e costumam gritar aos quatro cantos que são portadores de reputações ilibadas e vidas irretocáveis. Manifestam extrema paranóia e fantasiam estarem sendo perseguidos e tendem a apelar para a sua “biografia”. Geralmente adoram se refugiar em corregedorias e em órgãos ligados a vigilância da ética. Logicamente, isso nada mais é do que a manifestação da doença em seus estágios terminais.

Acredita-se que, após o diagnóstico ser proferido, o doente tem poucas chances de ir para as clínicas de segurança máxima, onde receberia o tratamento adequado ao seu mal. Não pela falta de vagas ou por desinteresse geral; mas por simples expressão de corporativismo de seus iguais e de outros doentes, ainda não diagnosticados, que atuam na mesma área que eles.

Infelizmente, esse mal parece alastrar-se cada vez com mais intensidade ultimamente. Se você é um juiz, um advogado ou trabalha em tribunais; tenha cuidado e mantenha a sua higiene moral e ética em dia.

Pense nisso.”

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

3 comentários em “A Síndrome da Toga Reluzente”

  1. Caro Blogueiro,
    Li ontem, sua coluna no JP. Fiquei muito feliz conforme já citei por e-mail, em ver um magistrado se portar socialmente como um elemento normal, dotado dos mesmos sentimento humanos que nutrem os filhos de DEUS.Parabéns mais uma vez e acredite, é super sincero! Antes, eu só achava que alguns poucos pederiam ser assim, como por exemplo, os Drs. Douglas Martins e Jorge Moreno.Sugeri ao Senhor “O Príncipe e o Mendingo”! Sem quisquer maldades. Apenas em função de seu raciocínio na escrita.
    Fraternalmente,
    Juarez Cavalcante

  2. É verdade. Esta síndrome realmente existe. Trabalho em um Fórum no Estado do Tocantins e já constatei que pelo menos (2) Juízes(as) dos (4) que trabalham na Comarca tem os sintomas relacionados à Síndrome. Outro gosta de fazer piadinhas de mal gosto com os servidores e parece ser racista ou anti-indígena. Não concorda que os índios tenham terra para morar e acha que eles devem ser como nós “civilizados”, devem trabalhar para comer.
    Que pena, melhor se todos os juízes fossem mais humanos, mais compreensivos, mais imparciais. Fico observando, eles não tem nem uma vida social “normal” como as demais pessoas. É… o melhor é orar ao único DEUS verdadeiro e pedi-lo para que toque nos corações dos magistrados que também se acham “deuses” para que possam ser pessoas melhores.

  3. Continuando…Se fossem só os Juízes que tem a Síndrome seria até razoável suportar os acometidos por esta enfermidade. O foda (desculpe a expressão) é ter de tolerar também advogados que parecem ter o “rei na barriga”. Tem uns que quando chegam a porta do Fórum parece que querem que todos ouçam a sua voz. Não falam normal, gritam. Outros, porque tem algum cargo na OAB acham que devem ser tratados a pão de ló e ainda ficam falando:”Sou conselheiro da OAB”. Sem ninguém ter-lhe perguntado.Acham que merecem tratamento diferenciado. Ainda, outros que também acham que devem ter tratamento diferenciado ficam exibindo o nº de sua a Carteira Profissional (OAB) para mostrarem a quanto tempo estão militando na Advocacia. Pior ainda quando há aqueles que são juízes aposentados e acham que as coisas funcinam como a 20 anos atrás quando o nº de processos eram bem menores. Sem falar na falsidade, nas ameaças… Que bom, pelo menos os Defensores Públicos e os Promotores de Justiça de minha cidade demonstram ser pessoas mais tratáveis.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.