Depois do meu discurso de posse todos dizem que vão me isolar dentro do Tribunal de Justiça do Maranhão. Confesso que, diante dessas afirmações, fico estupefato. Não acredito nisso. Um homem público não pode confundir o interesse público com questões pessoais. As questões por mim ventiladas não se destinaram a ninguém individualmente, daí que me causa estupor a simples cogitação de que me isolarão dentro do Tribunal.
Na minha compreensão, isolados deveriam ser, por exemplo, os que eventualmente atuem em detrimento da instituição, como o fazem os que pouco ou nada produzem e os que não dão assistência às comarcas e varas. Não é o meu caso. Eu não trabalho em desfavor da instituição. Eu tenho uma história de dedicação, como, de resto, a grande maioria, a quase totalidade dos colegas têm. Ninguém pode ser condenado pelas verdades que diz, ainda que elas não sejam palatáveis.
Admitindo que haja, dentro do Tribunal, uma corrente que tencione me isolar, resta indagar: como me isolar, se tudo o que eu disse é do conhecimento público? Como e por que me isolar, se apenas constatei um fato indiscutível, ou seja, que vivemos sob crise moral sem precedentes, cujo exemplo maior foi, recentemente, a aposentadoria compulsória de vários juízes e desembargadores no Mato Grosso? Por que a mágoa comigo, se, quando critiquei a baixa produtividade dos juízes do Maranhão, apenas reafirmei o que todos sabem? Por que ódio, se tudo que quero é que o Poder Judiciário seja respeitado o que, de rigor, é a aspiração de todos? Por que o dissabor, por que a indignação, se o correto é punir, sim, os que desviam a conduta?
Será que, na Corte de Justiça do meu estado há quem acredite que o Poder Judiciário não vive uma crise moral? Será que há quem, no mesmo Poder, concorde com a impunidade dos que desviam a conduta? Será que há quem não concorde quando afirmo que as promoções por merecimento são uma quimera? Será que existe quem entenda que é correto os juízes passarem apenas dois, três dias da semana nas comarcas? Será que existe algum desembargador que imagine que o estágio probatório não seja, de regra, uma falácia?
Confesso, sinceramente, não quero acreditar, me recuso a acreditar que haja desembargadores com a pretensão de me isolar, pois que aqueles que participarem desse movimento apenas reafirmarão a sua falta de compromisso para com a instituição.
Não agredi ninguém individualmente, não fiz nenhuma acusação leviana, não individualizei nenhuma conduta. O que fiz, além do desabafo, em face do que fizeram com a minha carreira, foi fruto do meu inalienável direito de dizer o que penso, antes sopesando as consequências.
É claro, reconheço, sim, que, ao tratar do que fizeram com a minha carreira fui duro, muito duro. Todavia, ninguém pode me julgar em face dessa posição, pois ninguém sabe o que passei, ao ver uma carreira que parecia exitosa, ser destruída, sem pena, sem dó – e sem critério.
Espero, sinceramente, que todos tenham a grandeza de compreender que fiz um bem para instituição, que passa, sim, em todo Brasil, por uma séria crise moral.
Juiz tem que acabar com essa mania de só querer ouvir elogios. O pior cego é aquele que não quer ver.
Repito que não há nada na minha fala que não seja do domínio público. A diferença agora é que um desembargador teve a coragem de dizer o que ninguém podia faze-lo, sem sofrer graves consequências.
E que fiquem certos: eu ainda aposto numa limpeza ética no Poder Judiciário brasileiro.
PS. Artigo republicado, com nova roupagem.
Justiça dos nababos
A realidade brasileira abarca um profundo fosso social que separa o cidadão comum da elite (classe A). Prova disso é a estatística do Pnad onde apenas 5% dos assalariados recebem acima de R$ 800,00.
Ora, com proventos em torno de R$ 30 ou R$ 40 mil mensais, os magistrados de Pindorama quase que naturalmente mais se identificam e abraçam o ponto de vista dos graúdos, dos abastados financeiramente. Foi assim no caso de Paulo Maluf e seu filho, Flávio, que amargaram uns dias de “cana” em setembro/2005, mas logo no mês seguinte se safaram da punição por criarem obstáculos ao inquérito de supostos crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e formação de quadrilha.
Naquele momento, um dos então componentes do Supremo Tribunal Federal, o ministro Carlos Velloso, ao votar pela soltura dos Maluf, compadeceu-se com seus semelhantes de classe e declarou: “Nós, que somos pais, podemos imaginar o sofrimento do paciente”… “Eu realmente imagino o sofrimento de um pai preso na mesma cela que o filho. Isso me sensibiliza.”
Mais recente, vimos a imperiosa e descabida atuação do multifuncional atual presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, quando disparou dois habeas corpus quase simultâneos (em 09 e 11/07/2008) em favor do polêmico banqueiro Daniel Dantas, investigado na Operação Satiagraha. Quer escândalo maior?
Entretanto, em meio ao mar de lama revolto pelas rumorosas notícias de corrupção investigadas pelo Conselho Nacional de Justiça, no que diz respeito ao judiciário maranhense e alhures, é alentadora a posse como desembargador do Dr. José Luiz Oliveira Almeida. Os homens de boa vontade reconfortam-se quando um justo enverga a toga da magistratura dignamente.
No âmbito nacional, em consequência da Operação Caixa de Pandora, a prisão de José Roberto Arruda, governador de Brasília, também é fortemente promissora contra o senso de impunidade geral que paira no ar. Assim, podemos dizer que tudo indica que um dia o escabroso pantanal de denúncias contra o clã Sarney será finalmente apurado. Então, por isso, desesperar jamais!
David Sá Barros, presidente do Sindicato dos Bancários do Maranhão
Sou funcionária do CNJ requisitada.
Digo-lhe que o Senhor fez um discurso brilhante, e, na verdade, deve se aproveitar da repercussão dele a seu favor, para formar um grupo seu, porque este Tribunal é todo dilacerado por grupos internos (o de Bayma, de um lado, e o de Rachid, de outro)…
E assim camnha essa “pobre” humanidade maranhense…
Meu Professor,
Isolado jamais você estará, em qualquer lugar. Porque, com sua postura, sempre terá a companhia dos Justos. Estes, sim, os seus legítimos pares.
Abraços do Paulo Cruz