Mistérios da toga-repercussão

Repercutiu muito mais do que eu esperava a crônica Ministérios da Toga. Os que eventualmente discordaram das reflexões na crônica emolduradas preferiram o silêncio. Não houve uma só manifestação contestando os termos da crônica, o que enaltece verdades nela contida.

Ao longo do exercício da judicatura amealhei muitos desafetos – todos gratuitos. Nunca fiz nada pra ter inimigos. Ainda assim sei que muitos são os que não me digerem, em face mesmo de eu não ser uma pessoa simpática. É muito provável que muitos desses desafetos imaginem que a crônica foi feita pra mim mesmo. Quem me conhece, entrementes, sabe que posso não ser simpático, mas não sou arrogante como muitos imaginam.

Ao longo de mais de 24 anos na magistratura nunca destratei uma testemunha, nunca tratei com descortesia um advogado, nunca deixei de atender qualquer pessoa que viesse a mim em busca de uma informação.

É claro que tive, aqui e acolá, desinteligências com advogados e promotores. Nada que fosse suficientemente relevante ou que decorresse de mera prepotência. Nada que não fosse, ademais, exceção.

Sei, entretanto, que morrerei estigmatizado pela etiqueta de arrogante, pois somente os que têm a oportunidade de lidar comigo sabem que tudo não passa mesmo de um estereótipo criado para macular a minha atuação como magistrado.

Não é a primeira vez que trato dessa questão. É que me causa indignação ver que os verdadeiros arrogantes, que se escondem sob a toga para espezinhar as pessoas, não são distinguidos como tais.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

3 comentários em “Mistérios da toga-repercussão”

  1. Não o conheço pessoalmente, mas não posso deixar de elogiar a sua postura. Em torno do juiz, criou-se a aura de que todo juiz é arrogante por natureza. A autoridade que nos é conferida não precisa ser exibida, mas utilizada somente quando se fizer necessário. Um dos atributos que o juiz deve ostentar é cortesia. Não aquela de procurar agradar a todos, mas a de procurar tratar a todos com o devido respeito. Discordâncias na nossa área é uma coisa natural, mas deve se respeitar o interlocutor. Por fim, o juiz deve ter mais consciência de “está exercendo a judicatura” e não de que “ele é juiz” porque um dia mais cedo ou mais tarde o juiz vai para a inatividade e volta a ser um cidadão normal como qualquer outro.

  2. Os juízes mais admirados pelas pessoas são justamente aqueles que sabem que o que lhes distingue dos demais cidadãos é somente o cargo (e a importância de suas atribuições), mas que, de resto, tem os mesmos direitos e deveres de qualquer um.
    É um erro brutal optar pela arrogância e prepotência.
    Ao invés de construir uma imagem positiva de si mesmo, opta, o magistrado que assim o faz, por construir uma barreira entre si e os outros, gerando o isolamento e a solidão do poder. O máximo que poderá encontrar, em assim agindo, serão falsos amigos e os bajuladores de sempre, que girarão em torno dele por mero interesse e nunca por nutrirem verdadeira admiração.

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