A equivocada opção pelo isolamento

Por opção minha – equivocada, registre-se – ,eu me fechei no meu mundo; mundo restrito à minha família e à família da minha mulher. Determinado dia, dei-me conta do equívoco da minha decisão. Tentei, ante essa constatação, retomar o contato com os amigos de outrora. Para minha supresa, apesar das tentativas que fiz, não consegui voltar à convivência do passado. Percebi, macambúzio, que os amigos de outrora, com os quais jogava baralho, tomava cerveja e fazia churrascos, não demonstraram nenhum entusiasmo em restabelecer a antiga convivência. Contrafeito, decidi levar a minha vida na mesma balada, consciente de que o único errado sou eu.

Essas reflexões me ocorrem em face do que leio agora, no livro de Ingrid Betancourt – NÃO HÁ SILÊNCIO QUE NÃO TERMINE. Explico. A sua companheira de cativeiro, uma de suas assessoras de campanha, num determinado momento, lamentou que não pudesse, estando nas mãos do sequestradores, cuidar da plantas de sua residência. E lamentou muito mais ainda ter optado por viver sozinha. Ela lamentava, por exemplo, o fato de nunca ter dado as chaves de sua casa à sua mãe, para, no mesmo passo, constatar, amargurada, o quanto foi errada a opção de ser sozinha no mundo.

Eu, de meu lado, não estando submetido a nenhum controle em minha liberdade de ir e vir, penso que ainda é tempo de recompor as antigas amizades. Vou tentar, sim, restabelecer contatos com meus amigos de outrora, sem, contudo, deixar de sublimar o meu relacionamento com a minha família, que, para mim, ainda é o mais relevante.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

3 comentários em “A equivocada opção pelo isolamento”

  1. Bela reflexão, colega.
    Semana passada estava refletindo sobre isso com minha esposa. Devido a compromissos profissionais, este ano me afastei um pouco dos amigos. Ela tinha percebido. Sabe como me senti melhor? Coincidentemente no dia seguinte (quinta-feira) um amigo de desde os bancos da faculdade e que também é colega da magistratura me ligou convidando para uma tomar uma cerveja. Nos encontramos em um shopping próximo, tomamos uns chopes e batemos um bom papo. Saí bem melhor depois.
    Sabe o que fiz hoje de manhã? Desta vez eu que liguei pra este amigo para convidá-lo. Chamarei outros dois amigos hoje à tarde. Quinta promete!

    Abraço.

  2. Parabéns pela decisão e, principalmente, por ter reconhecido que o amor e a dedicação que temos pela nossa família não podem nos fazer prescindir dos “amigos de outrora”.
    Um grande abraço, com votos de Boas Festas para toda a família Oliveira de Almeida.
    Azenate

  3. Olá, Dr.
    A reflexão acima me fez lembra da música de Oswaldo Montenegro, “A LISTA”. Creio que vc. conhece. Caso contrário, vale a pena!

    Adilson Balata – Advogado

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