Ontem, pela primeira vez, vi, na televisão, as cenas do massacre de Realengo – e o enterro de algumas vítimas. Não pude fazê-lo antes, em face de compromissos. Não resisti. Chorei. Estava na companhia do colega José Bernardo, em Porto Alegre. Senti uma fortíssima emoção. Lembrei dos meus filhos, especialmente da minha filha. Telefonei para minha casa, imediatamente após assistir ao telejornal da Globo. Falei com ela- com minha filha. Senti um certo alívio. Mas ela me disse que ia sair. Ia a um aniversário. Pedi a ela todo cuidado. Ela me prometeu que teria. Não foi suficiente. Deitei tomado de angústia e preocupação. Tomei um remédio. Dormi por volta da meia-noite. Acordei algumas vezes. Voltei a lembrar das cenas de tristeza por ocasião do enterro das vítimas de Realengo. Custei a dormir novamente. Mas dormi, para, poucos minutos depois, acordar para viajar. Estou em casa agora. O coração? Quase em paz. Ainda sofro com a dor dos pais das vítimas. Não tive coragem de assistir, hoje, aos telejornais. Não tenho a capacidade de ficar indiferente. Os rostos dos inocentes, ao fim do jornal da Globo, estão gravados em minha retina. Quantos sonhos destruídos! Quanto dor! Quanta emoção! Eu não suportaria. Filho não devia morrer antes do pais. Não há dor maior! É o mesmo que morrer junto. Sei que não suportaria tanta dor. Por que que tem que ser assim? Por que logo elas, na flor da idade, com uma vida pela frente? Por que o destino reserva tanta dor a determinadas pessoas? Qual a explicação?!