O Brasil tem jeito?

Eu, muitas vezes, em face das notícias veiculadas,  fico a pensar que ser direito é pecado.

Em face do que leio e vejo, fico com a nítida sensação de que não tem mais jeito.

Será que tem que ser assim mesmo!

Será que o mundo é mesmo dos  mais “espertos”?

Será que, estando-se no poder, tem-se que fazer apologia da bandalha.

Será que não  vale à pena rezar na cartilha dos honestos?

Vejam o episódio Palocci.

Há veementes indícios de enriquecimento ilícito. Ainda assim, está sendo blindado por governadores, deputados, senadores e, até, pela presidente da república, quando o correto, em qualquer país sério, seria ele justificar como enriqueceu em tão pouco tempo.

Mas, ao invés disso, diz, apenas, quem não tem o que explicar.

E  fica o dito pelo não dito.

E nada acontece!

E nada se faz!

E fica tudo como dantes!

E seu todos decidissem fazer o mesmo?

E seu eu decidisse, amanhã, vender decisões?

E seu eu decidisse usar meu prestígio – ou o prestígio do cargo – para pedir empregos para os meus filhos?

Eu se eu me decidisse pelo nepotismo cruzado?

E se eu decidisse me  locupletar  de parte dos vencimentos dos meus assessores?

E seu eu concluísse  que ser honesto é uma rematada tolice?

E se eu concluísse que é melhor ser desonesto morando num apartamento luxuoso, que permanecer morando aonde estou?

E se eu decidisse que é melhor ser desonesto viajando pelo mundo, na primeira classe, que ser honesto viajando para Cururupu, num dos fétidos ferry-boats que servem à baixada maranhense?

E se me fizessem ver que traficar influência é próprio do exercício do poder público e que eu poderia fazê-lo sem nada temer?

A verdade é que  nós outros, aqui do nosso canto, a toda sorte de bandalheira assistimos, inertes, sem nada poder fazer.

A quem apelar?

Como pode um Ministro da Justiça, por exemplo, simplificar a denúncia  ao Ministro Palocci a uma questão meramente politica?

Como pode a presidente do país ter como braço direito uma pessoa sobre a qual há suspeitas de enriquecimento ilícito?

Não sei não…mas eu fico com a sensação que estamos perdidos, que estamos falando sozinhos, que somos uns tolos, uns babacas.

É por isso que muitos, que vivem a criticar esses desmandos, na hora que ascendem, se danam a receber propinas; fazem de tudo para enriquecer rapidamente.

É aquele velho ditado, que norteia a ação dos canalhas incrustrados no poder: farinha pouca, meu pirão primeiro.

O Brasil tem jeito?

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Um comentário em “O Brasil tem jeito?”

  1. Estava eu pensando exatamente nisso quando abri o blog do Senhor hoje pela manhã… ou melhor… quase tarde.
    Acordei com a sensação de que a desonestidade neste país é vista com bons olhos.
    E o pior, nós que somos honestos nos sentimos andando na contramão, pois o que era proibido, agora, é permitido.
    Fico a questionar se chegará o dia em que os honestos terão vergonha de sua honestidade em razão da atual crise de valores que vivenciamos, porque na realidade as pessoas já nem sabem mais o que é certo e o que é errado.
    E assim vamos seguindo, valorizando os sorrisos forçados, os tapinhas nas costas, os favorecimentos, porque a “gentinha sem graça”, “os caretas” não sabem de nada.
    Quanto a mim, ando no sentido contrário, numa atitude que pode ser vista como desarrazoada, mas vou dando meus tropeços, seguindo os antigos valores, acreditando que, embora honesta, a vida vai dar certo.
    Engraçado como ainda encontramos lugares interessantes na internet. O blog de Vossa Excelência é um deles.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.