Muitas coisas em uma campanha eleitoral me indigna. Mas o que mais me revolta, no entanto, não é a promessa feita para iludir. O que mais me estarrece são os gastos sem limites, pois que sei que estão gastando o nosso dinheiro, o dinheiro que nos é tirado, sem apelo, através dos impostos Depois do pleito, aquele que for eleito para o Poder Executivo, faz uma alquimia qualquer e devolve, com juros e correção, o dinheiro que amealhou junto aos empresários. Para que possa devolver o dinheiro “investido” pelos empresários na campanha, as obras são superfaturadas e se paga, até, por obra que não se fez. Faz-se, enfim, todo tipo de malabarismo para repor, às vezes em dobro, às vezes triplicado, o dinheiro que foi carreado para as campanhas. O nosso dinheiro, o seu dinheiro, o dinheiro do povo, que poderia ser usado em seu benefício, na pavimentação de estrados, por exemplo. Depois da campanha, lá se vai o dinheiro da educação, da saúde, da segurança, dentre outras verbas. Mas não é só o executivo que dele se beneficia. Os Deputados e Vereadores que dão sustentação ao Poder Executivo, também são agraciados com sua parte. No poder ninguém fica órfão. Tudo que “investem” para ser eleitos recebem em dobro ou triplicado. E lá se vai o nosso suado dinheirinho. É uma pena que o povo não se sensibilize com isso.
Juiz José Luiz Oliveira de Almeida
Titular da 7ª Vara Criminal
Nós outros, que não somos dados a bandalheira, ficamos cá, distantes dos detentores do poder, fazendo ginástica financeira para ver se o dinheiro dá para passar o mês. Enquanto isso, eles esnobam, fazem farras, gastam sem limites, vivem o prazer de estar no poder, sem nenhuma preocupação com o pobre eleitor que não tem, muitas vezes, sequer o que comer.
É claro, é cediço, é óbvio que nenhum empreiteiro custeia uma campanha a troco de nada, pelos belos olhos dos candidatos. Nesse meio não há altruísmo. Nesse meio não ingênuo. Empresta-se, mas tem-se que devolver em dobro.
É uma pena que isso continue acontecendo sob a vista de todos. O esbanjamento é grande. Aqui na Ponta D’areia, onde moro, vejo todos os dias incontáveis veículos de campanha abastecendo no posto ao lado, com o nosso dinheiro. Depois de abastecidos os carros eles saem pela cidade cantando a mesma ladainha, tentando, com as músicas de campanha, enganar os eleitores.
A sensação que tenho é que os candidatos não têm o mais mínimo sentimento em relação ao eleitor. Pra eles o que importa mesmo é ser eleito, pois, sem poder, eles sabem, não há salvação.
Sonho com o dia em que o candidato que prometeu em uma campanha e não cumpriu o que prometeu, ser alijado dos próximos pleitos, como castigo pela farsa, pelo embuste, pela impostura, como se fora cassado. Sonho com o dia em que haja controle sobre os gastos de campanha. Como está não pode continuar. Os candidatos gastam, sem limites, porque tem quem patrocine os seus gastos e os patrocinadores só são benevolentes porque sabem que receberão tudo que gastaram de volta e mais alguma coisa.
Aos cinqüenta e três anos de idade já vi, várias vezes, depois de um pleito, a torneira do Estado ser fechada em detrimento dos nossos salários, da saúde, das obras de infra-estruturas e outras coisas mais. Eu não me iludo. Tenho quase certeza que, depois do pleito, virá o período das vacas magras. Os funcionários públicos, os que necessitam dos serviços do Estado, tenho certeza, pagarão a conta.- e com muito sofrimento.
Entristece-me, sinceramente, ver este esbanjamento feito pelos candidatos. Para eles o céu é o limite. Gastam sem pena e sem dó. Nós outros, servidores públicos, e que escolhemos o caminho da retidão, pagaremos pela fava que o boi comeu.
Até quando isso vai perdurar? Até quando nos manteremos calados? Até quando o povo humilde vai suportar tanto esbanjamento? Quando será que veremos ser punido o candidato que mentir no horário eleitoral para vencer o pleito?
Não bastasse o esbanjamento do nosso dinheiro, temos que suportar o barulho ensurdecedor dos carros de som dos candidatos. Não bastasse passar a semana inteiro assistindo na televisão ao desfile de falcatruas dos políticos, ainda somos obrigados, aos sábados e domingos, a ouvir as gravações dos candidatos, as quais grudam em nossos ouvidos de tal forma que, quando nos espantamos, estamos cantando a música e pronunciando, dentro de nossa casa, o nome de alguns candidatos, que de rigor, não se poderia mencionar em uma casa de família.