Convenhamos: esse horário eleitoral gratuito, em determinados aspectos, é uma afronta.
Convenhamos, ademais: essa propaganda com carros de som é uma excrescência.
O que entrevejo em face da propaganda eleitoral é que cumpre-se o que determina a lei, desrespeitando outra lei.
A verdade é que ninguém suporta a poluição sonora produzida pelos carros de som dos candidatos.
Quem mora numa avenida como eu, não tem o direito de ler ou de assistir a um programa de televisão.
Há momentos que não se pode sequer conversar.
O pior que há músicas de candidatos que colam nos ouvidos da gente que, muitas vezes, dormimos cantando, sem querer, o seu maldito refrão.
É tempo de mudar!
Chegou a hora de se rever esses abusos!
Não dá mais para suportar calado essa afronta.
Registro, para não ser mal interpretado, que não sou contra a propaganda eleitoral.
O que quero dizer é que tem que ter limites.
Não se pode, em nome da lei, afrontar a lei.
Não pode o serviço de som de um determinado veículo atentar contra a nossa saúde, nos afrontar e nos irritar por falta de limites.
É preciso que as instituições saiam da sua inércia para fiscalizar os abusos.
Em nome da lei não se pode ir ao extremo.
Eu quero paz!
Eu tenho o direito de escolher o que quero ouvir!
Eu tenho o direito de, na minha casa, conversar com os meus filhos, trocar ideias com a minha mulher.
Direito não é para aniquilar direitos.
Se é verdade que os candidatos podem, livremente, fazer propaganda política, não é menos verdade que eu tenho direito ao sossêgo. Disse infere-se que, do confronto entre o meu direito e o direito dos canditados, tem que existir um meio-termo.
O que é inaceitável é a falta de limites, é a exorbitância, o posso tudo em nome da lei.
Eu tenho o direito de ouvir música na minha casa; não posso, todavia, ouvi-la em níveis de decibéis que possam incomodar o vizinho.
Eu tenho o direito de comemorar o meu aniversário com a minha família e meus amigos; inobstante, não posso, mesmo estando no interior do meu apartamento, fazer algazarras, de modo a perturbar o meu vizinho.
Eu posso beber, cantar, dançar e, até, me embriagar no meu apartamento; não posso, todavia, bêbado, lançar improprérios e desacatar os meus vizinhos, ao argumento de que, estando em minha casa, tudo posso.
Vê-se, com o exemplos acima lançados, que o meu limite é o direito do meu congênere.
Por que, então, a propaganda eleitoral não tem limites?
Difícil controlar? Claro que é.
Mas é preciso, sem mais tardança, criar uma cultura de respeito aos direitos dos semelhantes, ainda que seja no período eleitoral quando, ao que parece, tudo pode.