Saber perder

Na vida  há bons e maus perdedores.

Não sei me definir nessa questão. Penso, pela minha história de vida, que sei perder e sei ganhar.

Tem sido assim a minha vida.

Todavia, tenho muito a comemorar, pois sempre ganhei muito mais que perdi. Mesmo nas derrotas me superei para, depois, sentir-me vitorioso; vitorioso, sim, por ter tido a capacidade de compreender e assimilar a derrota, como se fora alguma coisa natural.

Perdendo, sempre o fiz com a necessária altivez; nunca me apequenei ou me autoflagelei em face de uma derrota, mesmo as que dilaceraram a minha alma.

Sou sempre capaz de dar a volta por cima. A vida me ensinou – eu eu tratei de aprender.

Quando perco, admito a derrota, deixo a ribalta e vou cuidar de sarar a ferida.

Nos relacionamentos pessoais  em que   nos envolvemos –  seja profissional, seja pessoal –  é   preciso saber perder, afinal, admitir a derrota, o revés, é o mesmo que praticar a humildade.

É da sabença comum que não se vive somente de vitórias; perder ou ganhar é apenas uma consequência de viver  num mundo de extrema competitividade.

Ganha-se hoje; perde-se, amanhã. Nunca será diferente. O que precisamos é ser humildes numa e noutra situação.

O grave é quando, por pura falta de percepção, de tirocínio, perdemos para nós mesmos, para  nossa vaidade,  por não querer ver o óbvio, por não admitir que o jogo acabou, que é chegada a hora de viver das boas lembranças, de seguir adiante…, de aceitar a derrota.

O bom perdedor não foge à luta, não sucumbe e nem se apequena diante das intempéries.  Deve, ao reverso,  por-se de pé, empunhar a bandeira da dignidade e seguir noutra direção, sem perder a fé, sem se deixar  abater.

É levantar a cabeça e cuidar das feridas, ainda que delas resultem graves e permanentes cicatrizes.

Fui estimulado a essas reflexões, dentre tantas razões,  em face, também, de uma notícia que li, hoje, num matutino local, dando conta de que determinado cidadão, inconformado com a separação, que considerou uma grave derrota,  desferiu violentas facadas na ex-mulher, agindo como agem os maus perdedores, os que a vida não foi capaz de ensinar que perde-se hoje para ganhar amanhã.

Esse cidadão é, sim,  um mau perdedor.

Covarde, não teve forças para ir à luta, decerto porque não teve a percepção de  que nesta vida não se ama – e nem se é amado – apenas uma vez.

O bom perdedor tem que assimilar a derrota, deve saber partir, não se deixar abater pelo revés.

Nenhum de nós poderá se considerar um  bom ganhador se não for capaz de agir com altivez na derrota.

Perder ou ganhar faz parte da vida.

Pena que existam muitos que só sabem ganhar.

Ninguém sai de uma derrota ou de uma vitória emocionalmente equilibrado.

Mas é  preciso, repito, saber perder.

Numa e noutra situação é preciso  equilibrar as emoções,  não se deixar abater, afinal, a vida continua e somente os fracos de espírito se deixam sucumbir em face de um revés.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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