Como a moça feia na janela

Com os  cabelos brancos vem, como regra, a prudência.

A gente vai acumulando experiência e, com ela, vai compreendendo que não é bom o sectarismo.

Confesso que, muitas vezes, fui além, sim.

Confesso, no entanto, que sempre que ultrapassei o umbral da prudência, o fiz movido pelo melhor sentimento.

Eu não sei agir de má-fé, por pura maldade, para ferir suscetibilidade; longe de mim  o agir por vingança, a ação pérfida…

A verdade, inobstante, é que, aqui e acolá, às vezes sem compreender (?), terminamos por fugir do meio-termo, o que, de rigor, não é errado; acho, até, que deve ser assim mesmo, que em determinadas ocasião é preciso assumir, ir além.

Ao refletir sobre o que creio e acredito – muitas vezes radicalizando (radicalizar aqui empregado no melhor sentido) – não o faço para  atingir quem quer que seja; eu apenas acredito e digo, porque entendo que as pessoas têm que ter coragem de se expor, de assumir posições, de sair de cima do muro.

Eu não acredito, sinceramente, em que não tem opinião, que vai levando  a vida – e as relações – ao sabor das circunstâncias, cujo discurso vai sendo instrumentalizado de acordo com as conveniências.

Num país como nosso, em que as pessoas se mostram sem convicções, sobretudo no mundo da política, parece ser pecado assumir posições; e eu as assumo, pois nunca fui do tipo que muda de cor dependendo da ocasião.

Mas o que importa mesmo é não ficar em cima do muro.

É preciso ter coragem para sair em defesa de  suas próprias ideias.

Quem não defende as suas ideias é porque, de rigor,  não as tem; se as tem, não tem convicção das ideais que tem, por isso não as defende, por isso é mais cômodo ficar como a moça feia na janela, pensando que a banda toca pra ela ( Chico Buarque).

Na defesa das minhas convicções eu vou além: eu simplesmente radicalizo. Aliás, Confúcio dizia que o meio-termo não devia ser seguido. É que, segundo ele, o homem inteligente ultrapassa-o, o imbecil fica aquém.

Posso não ser inteligente, mas imbecil sei que não sou. Por isso, não tenho medo de me expor, de expor as minhas ideias, de dizer sobre as coisas que acredito.

Mário Sérgio Cortella, em Provocações Filosóficas, adverte que “não é preciso ir ao extremo, mas é essencial não ficar restrito ao confortável e letárgico centro”.  É que, prossegue, “muitas vezes o meio pode ficar anódino, inodoro, insípido e incolor”.

Nesse sentido, há um dito popular que serve bem às reflexões que faço agora: A radicalização é uma virtude; o vício está na superficialidade.

Sem ser sectário, eu radicalizo mesmo na defesa daquilo que acredito.

Tenho sido assim, e assim espero encerrar meu tempo de vida na terra.

Eu nunca me arrependi por defender com tanto radicalismo – sem sectarismo, repito –  as coisas que acredito.

Todos temos ciência da existência de mitos, fábulas e histórias enaltecendo a preferência pelo caminho do meio. Mas é preciso ter cuidado, pois ele pode também ser o caminho que leva à mediocridade.

A gente nunca deve ter receio de defender as coisas que acreditamos.

Da mesma forma, não devemos nos envergonhar se eventualmente decidimos mudar a direção.

Se há alguma coisa de que me arrependo é de não ter arriscado mais, de não ter amado mais, de poucas vezes ter visto o sol nascer. Compreendo, de mais a mais, que devia ter complicado menos,  trabalhado menos, ter visto o sol se pôr… (Epitáfio, Titães).

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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