Meu filho e o assaltante petulante

Na última quinta-feira, por volta das 4:30 da manhã, meu filho se dirigia ao bairro do São Francisco, para levar uma amiga em casa, quando, no Renascença, próximo ao prédio onde funcionava o Yázigi, foi assaltado. Ao diminuir a marcha do veículo para entrar na curva, apareceu um meliante, de arma em punho, anunciando o assalto. Levou do meu filho e da amiga os aparelhos de telefone celular. Meu filho, seguindo as minhas instruções, não reagiu e, friamente, ainda pediu o chip do seu aparelho, os seus documentos e os de sua amiga.

O inusitado do assalto, daí a razão de estar escrevendo sobre ele, foi a petulância do assaltante que, ousado, ainda se sentiu no direito de chamar a atenção do meu filho, para quem se dirigiu dizendo, mais ou menos assim:

“Ta vendo como é perigoso estar na rua nessa hora! Se tu tivesse em casa, nada disso teria ocorrido!”

Quanta petulância! Quanta ousadia! Essa petulância decorre da quase certeza da impunidade, porque ele, muito provavelmente, já esteve preso e colocado em liberdade no outro dia.

A petulância desse assaltante me fez lembrar de um assalto ocorrido no Sacavém e da audácia do meliante. Nesse assalto, o pulha ficou esperando a passagem de uma perua que, habitualmente, passava naqueles imediações levando passageiros para o trabalho.

Pois bem. Depois de assaltar as vítimas, fazendo uma limpeza geral, com arma de fogo em punho, o biltre, depois de tudo, dirigiu-se aos ofendidos, “aconselhando-os” e destratando-os no mesmo passo, nos seguintes termos:

“Vão, vão trabalhar, vagabundos!!!.

Vejam que, nesse assalto, para o canalha, vagabundos são os ofendidos. Ele não! Ele está trabalhando! Ele merece respeito! Quem não merece respeito são os ofendidos

Esse atrevido, pérfido meliante, muito provavelmente, em outra época, já tinha sido preso e colocado em liberdade em seguida. Me orgulho de ter dado um basta em sua ação.

Definitivamente, não sei onde vamos parar!

Mas o episódio envolvendo o meu filho me remeteu a outro assalto, ou melhor, assaltos. A proprietária de uma banca de revista no Calhau, assaltada pela quinta vez pelo mesmo malfeitor, contou-nos, em audiência, que, na terceira vez que foi assaltada – e daí em diante – o facínora entrava em sua banca e, dirigindo-se a ela, no seu ouvido, para que os fregueses presentes não percebessem, dizia apenas:

“Sai daí, vagabunda” .

A vítima, obedecendo ao comando de voz do meliante, deixava a sua banca para trás e ficava, à distancia, esperando que o bandido cara-de-pau de lá saísse com a renda até então amealhada, para poder voltar a trabalhar. Essa senhora, nos últimos tempos, só trabalhava para esse atrevido malfeitor.

Não é preciso dizer que, em função desses dois últimos assaltos, os meliantes foram julgados por mim e, hoje, cumprem pena.

Lamento que o canalha que assaltou meu filho, muito provavelmente, ficará impune, para cometer novos assaltos. Até o dia que tiver a infelicidade de cair na 7ª Vara Criminal. Nesse dia, vou mostrar-lhe quem é vagabundo!

No exercício do meu mister, tenho dito, não vitupero nenhuma das prerrogativas do acusados. Trato todos com urbanidade e respeito, mas ajo com rigor, em nome da sociedade.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.