O bom profissional deve fazer do estudo uma prática corriqueira, do dia a dia, como se fosse uma necessidade – para o corpo e para a alma.
O profissional que quer se fazer respeitar não pode se limitar a fingir que sabe. Não deve enfrentar teses das quais eventualmente discorde com falácias e frases de efeito, que servem apenas, quando muito, para ludibriar, para afrontar a realidade.
Não é bom fingir que sabe; o profissional tem que saber mesmo – ou, pelo menos, se esforçar para saber -, para discutir teses colocadas em tablado com o mínimo de base intelectual.
O bom profissional deve ser humilde. Não deve discorrer sobre o que não sabe, fingindo que sabe.
O bom profissional deve ser verdadeiro. Não deve admitir que sabe, sobretudo quando a sua ignorância salta aos olhos de todos.
O bom profissional deve ser altaneiro o suficiente para, diante de um embate, admitir não ter argumento para enfrentar as teses antípodas às suas.
É preciso levar em linha de conta que pensar e não dar sustentação intelectual ao pensamento, é o mesmo que não pensar, que agir como um autômato.
Para se fazer respeitar, o bom profissional não deve se limitar a repetir conceitos vagos e muitas vezes descontextualizados, desatualizados, numa embalde tentativa de transparecer que sabe o que efetivamente não sabe. Esse tipo de profissional serve de galhofa, pensa que engana, pois não tem consciência – ou finge não ter – de sua própria ignorância.
Eu, cá do meu canto, ciente e consciente das minhas limitações intelectuais – mas não me falta boa vontade e dedicação, registro – tenho procurado emitir opiniões apenas em face das matérias que tenha o mínimo de conhecimento; e, ainda assim, o faço com o espírito aberto, ciente de que, convencido da relevância dos argumentos contrários aos meus, devo, com humildade, acolher a tese que transpareça mais consentânea.
Eu não confio, eu não acredito no profissional que não estuda, que não se atualiza, que vive desplugado do pensamento contemporâneo, que não aprendeu as lições ministradas no passado, que vive no mundo da lua, com os pés fincados na terra, da qual retira apenas o fruto que lhe sacia a vaidade.
Eu não confio – ninguém confia, todos desconfiamos – no profissional que, no enfrentamento de uma tese, sem estar credenciado para esse fim, faz mero jogo de palavras, brada e reage, sem respeitar o ponto de vista do congênere, exatamente para obliterar a sua própria deficiência, sua indigência intelectual, numa tentativa malsã de mascarar a realidade.
Com a experiência que todos acumulamos, não raro flagramos esse tipo de profissional nas mais diversas oportunidades que a vida nos oferecesse.
No caso específico do magistrado, registro, ademais, não basta, tão somente, estudar, se preparar intelectualmente para o (saudável) embate de ideias. O magistrado deve, de mais a mais, colocar-se acima de qualquer suspeita; não deve aceitar pressão ou manipulação de quem quer que seja, não deve decidir aos sabor das circunstâncias, apenas para agradar, para fazer valer o poder que tem.
O magistrado, como lembra Aury Lopes, não tem que ser um sujeito representativo, posto que nenhum interesse ou vontade que não seja a tutela dos direitos subjetivos lesados deve condicionar o seu juízo.
É preciso ter em mira que a atuação do juiz não é política, mas constitucional, consolidada na função precípua de proteção dos direitos fundamentais, ainda que para esse fim tenha que adotar posição que se contraponha à maioria.