A soberba ( orgulho desmedido, arrogância, presunção ) não é boa companheira. Parece castigo, mas todas as vezes quem alguém se imagina o senhor da verdade ou da razão, sofre um revés, que é exatamente para apreender que a humildade é uma virtude (É claro que dito isso por quem tem a fama que tenho parece paradoxal. Mas só quem sabe quem sou, verdadeiramente, são os que estão em volta de mim. O resto é puro preconceito, precipitação, pré-julgamento).
Mas é impressionante como há pessoas que não aprendem. Reconheço que assumo posições antipáticas, quando digo, por exemplo, que o poder público não está a serviço de uma pessoa, mas se destina a toda coletividade. Mas isso não é prepotência, não é arrogância; é filosofia de vida, é filosofia moral.
Sei, ademais, que quando exponho as minhas convicções acerca de questões morais, também pareço, aos olhos dos meus próprios colegas, prepotente. Mas filosofia moral não é prepotência: é uma maneira de ver e agir, à luz dos valores morais que devem estar sedimentos em cada um de nós, sobretudo os que exercem um múnus público.
Mas eu sei, também, que poucos são os que têm a humildade e o equilíbrio que tenho no exercício do poder. Eu nunca acho que posso tudo. Eu não tenho a vaidade que a muitos impregna em face do exercício de um cargo de poder e visibilidade. Eu não trato com descortesia os meus pares, advogados e funcionários. Mas já fui tratado com deselegância, sem reagir, porque, além do mais, tenho educação.
Diferente de muitos, eu não me julgo poderoso. Não dou murros na mesa. Não grito e nem desrespeito nenhum ciadão, nenhum funcionário e quem mais com quem eu tenha que me relacionar.
Reconheço quando estou errado, e peço desculpas, se for o caso. Nesse passo, se entendo que, por exemplo, procedi sem o necessário respeito para com os meus pares ou em relação a quem quer que seja, mesmo que seja a pessoa mais humilde que eventualmente esteja sob o meu comando, sei retroceder, pedir desculpas.
Discuto questões jurídicas, habitualmente, com os meus assessores, sendo que, muitas vezes, sou vencido nos meus argumentos; quando isso ocorre, retrocedo, sigo noutra direção – sem acanhamento, sem parecer que capitulei, sem me sentir derrotado, mesmo porque, recurar, reconhecer o erro, não é demérito.
Recuo, sim, sempre que me dou conta do erro. Ouço conselhos dos meus assessores, como o mesmo desprendimento, acatamento e respeito com que eles ouvem as minhas perorações.
A soberba, definitivamente, não é a minha marca. Mas há os que pensam, sim, que tudo podem, que são os donos da verdade, que não podem voltar atrás, que não devem assumir os seus erros. Esses, só a vida para ensinar. Mas há os que, empedernidos, nem os reveses da vida os tornam humildes, o que é uma pena.
Um dado histórico pode traduzir, exemplarmente, o que estou tentando dizer.
Pois bem. Napoleão, inconformado com a decisão do czar (imperador russo) de abandonar o bloqueio continental ( pelo qual todos os países europeus teriam de fechar seus portos ao comércio inglês), decidiu invadir a Rússia, em represália. Para isso, consta dos registros históricos, preparou um exercito de 600 mil homens e 180 mil cavalos. As tropoas francesas, no território russo, fizeram as tropos do czar bater em retirada. Napoleão e suas tropas chegaram a Moscou e ocuparam o Kremlin( palácio do czar). As tropas, no entanto, depauperadas, começaram a sucumbir diante do rigoroso inverno russo. Para simplificar: diante dessa adversidade, que a soberba de Napoleão não deixou ver, dos 600 mil soldados só voltaram com vida 40 mil, famintos e esfarrapados. Resultado: Napoleão,com esse erro, foi apeado do poder, em face da reação dos ingleses, que se aliaram aos austríacos, russos e prussianos, e invadiram Paris. Derrubado, foi enviado à ilha de Elba. Assumiu o poder Luis XVIII, irmão de Luis XIV.É verdade que, depois, Napoleão reassumiu o poder, conquanto o tenho perdido em seguida, na famosa batalha de Waterloo, tendo sido exilado, depois, na Ilha de Elba, onde permaneceu até morrer.
Mas o que de mais importante fica dessa página da história é a constatação de que, tivesse sido mais humildade e previdente, Napoleão não arrastaria para morte mais de 560 mil franceses.
Soberba, pois, é isso.