Para manter um blog, postando matérias novas todos os dias, é preciso muita inspiração. Mas não basta a inspiração: é preciso ter coragem de dizer o que se pensa; coragem porque, ao dizer o que se pensa, pode-se fabricar inimizades -até figadais, creia. Por isso, é sempre mais cômodo não falar, ficar sobre o muro, ver a banda passar, sem esboçar reação. Como não sou desse tipo, eu prefiro dizer o que penso; mas o faço com responsabilidade, cuidando sempre para não agredir as pessoas, limitando-me a expor os meus pontos de vista em face dos mais diferentes temas, apenas para marcar posição, à luz da compreensão que tenho que, nos dias presentes, já não prevalece aquela máxima, que esconde um ato de covardia, de que juiz só fala nos autos.
É preciso convir, inobstante, que dizer o que se pensa é correr o risco de pagar um alto preço, sobretudo porque as palavras, muitas delas polissêmicas, de especial abertura semântica, permitem muitas interpretações, que ficam na dependência de quem as leiam, às luz de suas pré-compreensões, dos seus valores, das suas idiossincrasias.
Recordo, a propósito, que, em 2006, dei uma entrevista a jornal local, na qual, dentre outros temas, fiz uma abordagem acerca da falta de critérios para as promoções por merecimento. No dia seguinte, o jornal estampou uma manchete imputando e mim a autoria de graves acusações contra o Poder Judiciário do Maranhão. Claro que, por isso, paguei um preço alta. Mas entendi o resultado como uma consequência natural de ter corrido o risco de dizer o que pensava.
Mas eu dizia, é preciso ter coragem de dizer o que se pensa, ainda que possamos ser incompreendidos.
Dois episódios históricos para ilustrar. Hobbes, ao defender uma autoridade absoluta em face dos cidadãos, demoliu, no mesmo passo, a pretensão dos reis ao favor divino. Ao fazê-lo, foi considerado por muitos de seus contemporâneos, se não de fato um ateu, certamente um herege perigoso. Depois da grande peste de 1666, quando 60 mil londrinos morreram, seguida pelo Grande Incêndio, um comitê parlamentar foi formado para investigar se seus escritos tinham provocado os dois desastres. Pagou o preço da ousadia de dizer o que pensava (Casos Filosóficos, Martin Cohen, 2012)
Émile Zola, todos lembram, escreveu um artigo ( J’ accuse), em face do caso Dreyfus, publicado no jornal L’ Aurore, atacando os generais e outros oficiais , a quem atribuía a responsabilidade por um grave erro judicial. Pagou um elevado preço. Foi processado, condenado e exilado, nada obstante não tenha feito nenhuma acusação leviana, vez que, depois, comprovou-se que, efetivamente, a condenação de Dreyfus tinha sido embasada em prova insubsistente. Dentre outras verdades, Zola afirmou: “Meu dever é de falar, não quero ser cúmplice. Minhas noites seriam atormentadas pelo espectro do inocente que paga, na mais horrível das torturas, por um crime que ele não cometeu”.
É isso!
Eu daqui do meu lado, ciente da minha dimensão, vou dizendo as coisas que penso, sem temer pelas incompreensões. Sei, todavia, que, por isso, há quem me veja com cautela e reserva, afinal, na concepção de muitos, falar, dizer o que pensa, numa corporação, pode ser um grave pecado. Mas eu vou dizendo, na convicção de que não sou irresponsável e inconsequente. Muitos gostam e aplaudem o que digo; outros, nem tanto.
Fazer o quê?