Sobre a morte e a dor dos que ficam

Estou retornando ao trabalho, depois do longo feriado da semana santa. Aproveitei para relaxar: ouvir e contar histórias, sem me afastar do meu mundo e dos amigos de sempre.

Infelizmente, fui surpreendido com a notícia da morte de um parente muito próximo, que já vinha lutando algum tempo para recuperar a saúde.

Inobstante a certeza da morte, mais uma vez, em face dela, fui levado a refletir acerca da sua inevitabilidade, sem deixar de me agastar com as escolhas que ela faz.

Creio, sim,  na senilidade e na falta de critérios e discernimento de “dona”morte. Afinal, ela faz escolhas que eu, por mais que tente, quase nunca compreendo.

É claro que os movidos pela fé devem entender as opções que a morte faz.

Eu, cá do meu lado – muito racionalmente, imagino -, nunca consigo entende-la; ela sempre me parece traiçoeira, mal-humorada, temida, vingativa e pérfida.

Mesmo quando ela acena antes, anunciando a sua chegada, ela incomoda. Por maior que seja a fé do “eleito” e dos que estão próximos, ela no fim sempre vence.

E não adiante argumentar que saímos dessa para uma vida melhor, pois não é disso que estou tratando!

A verdade é que não gosto de “dona” morte, definitivamente, afinal, cedo ou tarde, sei que ela me fará uma visita; mas não será bem recebida, eu não hesitarei em enfrentá-la, com todas as minhas forças, conquanto admita a sua inexorável vitória, afinal, ninguém logrou, até hoje, sobrepujá-la. Quando muito, ela recebe um safanão, um “chega-pra-la”, para, depois, voltar: inclemente e altiva, para vencer a batalha, definitivamente.

O tempo passa, e ela, muita vezes de surpresa, aparece e leva um dos nossos, sem nada explicar, sem nada dizer, como se não tivesse – e não tem mesmo! – a quem dar explicações.

Ela, algumas vezes, tem, até, a consideração de mandar um recado; outras, nem tanto. Chega, sem aviso prévio, e leva o escolhido, pouco se importando com a dor dos que ficam.

Outras vezes, apenas para enganar, ela deixa as suas “vítimas” algum tempo conosco, enchem-nos de esperança,  para, algum tempo depois, traiçoeira com é, levá-las consigo, deixando em seu lugar apenas a saudade – a eterna saudade, a lancinante saudade.

Eu, cá do meu canto, muitas vezes incrédulo (incredulidade que não deve ser confundida com ateísmo), nunca consigo compreender as escolhas que a morte faz.

Não as compreendendo, a mim só me resta, como tem sido afinal, acatar os seus desígnios e seguir adiante, pois, afinal, para os que ficam, a luta continua.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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