O cuidado que se deve ter com as palavras . Releitura.

 

Nas relações interpessoais os interlocutores devem ter muito cuidado com as palavras. É que, no calor de uma discussão, as palavras podem atingir de forma tão profunda um dos dois contendores, que impossibilita, depois, qualquer reaproximação.
José Luiz Oliveira de Almeida
Titular da 7ª Vara Criminal

Cuida-se crônica que acabo de enviar ao Jornal Pequeno para publicação.

Antecipo, aqui e agora, um excerto relevante da crônica.

    Em face da experiência de vida e do testemunho desses embates é que, sempre que travo uma discussão mais acerba, tenho o cuidado de medir as palavras. Não podemos, no calor de um entrevero, dizer tudo que queremos, tudo que pensamos, por maior que seja a nossa indignação. É preciso, pois, sopesar, refletir antes de falar, para que as portas da reconciliação permaneçam abertas.

A seguir, a crônica, por inteiro.

Nas relações interpessoais os interlocutores devem ter muito cuidado com as palavras. É que, no calor de uma discussão, as palavras podem atingir de forma tão profunda um dos dois contendores, que impossibilita, depois, qualquer reaproximação.
Fincado nessa constatação é que tenho dito, reiteradas vezes, que as pessoas têm que refletir, antes de qualquer agressão verbal. Tenho reiterado essa afirmação em diversas oportunidades. Tenho, outrossim, agido, há muito, sistematicamente, de acordo com essa premissa.
Ao longo da minha vida e em face mesmo da minha formação profissional, fui testemunha involuntária de várias discussões e agressões verbais ocorridas no calor de um embate. Muitas dessas agressões, por atingiram tão profundamente a honra de um dos interlocutores, inviabilizaram, depois, qualquer composição.
Em face da experiência de vida e do testemunho desses embates é que, sempre que travo uma discussão mais acerba, tenho o cuidado de medir as palavras. Não podemos, no calor de um entrevero, dizer tudo que queremos, tudo que pensamos, por maior que seja a nossa indignação. É preciso, pois, sopesar, refletir antes de falar, para que as portas da reconciliação permaneçam abertas.
É consabido que a ofensa que decorra de um embate pode atingir de tal forma a honra dos litigantes que as portas da reconciliação se fecham para sempre. Essa constatação serve para todos os embates da vida pessoal – até e, sobretudo, nas divergências políticas e nas relações familiares, onde os entreveros são mais freqüentes.
Ao longo de minha vida tenho me defrontado com interlocuções acerbas, açodadas, sobretudo no desempenho de minhas funções. Tendo tido o cuidado, no entanto, de pensar, refletir, contar até dez, antes de revidar a uma agressão verbal.
Mas não fui sempre assim, importa ressaltar. Não fui sempre de apagar incêndio. Muitos vezes contribui para o circo pegar fogo.
Houve uma fase da minha vida, costumo recordar, em que não levava desaforo para casa. E me orgulhava dessa atitude. No calor de um debate, se eu não fosse capaz de responder à altura uma agressão verbal, me sentia menoscabado, humilhado. Esperava a oportunidade para o revide. Era o fogo da juventude, a chama acessa da inexperiência. Só sossegava quando tinha a oportunidade de dar o troco.
Hoje, ainda que saia em desvantagem – o que ocorre quase sempre – , prefiro perder o embate do que a amizade do interlocutor para sempre. Prefiro deixar as portas abertas para uma composição. Reconciliar, muitas vezes, é preciso. Não é bom ter inimigos. Não me apraz tê-los. Os tenho, todavia. Muito mais por culpa deles que por meus rompantes.
Com o espírito belicoso, importa reconhecer, rompi muitas amizades, pois que, no calor da discussão, ou depois dela, só sossegava quando tinha a certeza de ter dado o troco ao oponente – ainda que serôdio.
Quanta ingenuidade! Quanta inconseqüência!
Eu nunca fui feliz por vencer uma contenda verbal. Infelizmente, custei a me dar conta dessa realidade.
Atualmente, amadurecido, com os cabelos encanecidos, com família constituída, sendo alvo de injustiças, preterido, sinto-me muito mais feliz que noutras épocas. E quando sou agredido ou injustiçado, respondo a agressão com equilíbrio, com parcimônia, com tolerância, sem estimular o conflito. Sou mais feliz assim. Não vale à pena viver uma vida conflituosa, belicosa com os desafetos. Aos inimigos, aos agressores, aos antagonistas reserva apenas a minha indiferença.
Mas o que importa mesmo é que, tendo mudado, sou mais feliz. Ninguém é feliz enfrentando desafetos. E não adianta me provocar, pois não vou responder a provocação. Se o fizer, se tiver que responder a uma agressão, o farei depois de muito refletir, de modo a deixar as portas abertas para uma futura reconciliação, se essa for a minha perspectiva.
Não vale a pena ter inimigos. Não vale a pena estimular a cizânia. Viver em paz, minimizar as querelas faz bem ao espírito.

 

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

2 comentários em “O cuidado que se deve ter com as palavras . Releitura.”

  1. Parabéns pelo artigo, inclusive, hoje publicado no JP.
    Seu conteúdo demonstra grandeza que é peculiar a sua pessoa. As atitudes sempre foram mais importantes que os fatos, uma vez que qualquer fato que enfrentamos, por mais penoso que seja, mesmo que pareça irremediável, não será tão importante com as atitudes para com ele.
    Esses são os ensinamentos do grande Mestre Jesus.
    Fique com Deus.
    Abraços,
    Bonfim

  2. caro cronista, a sua reflexão a cerca danecessidade e importância da moderação é de grande valia para as pessoas ,principalmente os mais jovens. eu estou chegando aos quarenta mas ainda estou na impetuosidade dos vinte e poucos anos,porém reconheço a necessidade de incorporar esse estado de espírito descrito em sua crõnica . valeu.

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