Ontem testemunhei uma criança se divertindo com o pai (uma menina, linda, loira, de cabelos encaracolados, que, por tudo, me fazia lembrar a minha filha), agarrada ao seu pescoço, dizendo, bem alto, sem nenhum pudor, para quem quisesse ouvir: “papai, eu te amo”, sempre após ouvir alguma coisa ao pé do ouvido; alguma fantasia que só os pais são capazes de construir para entreter os seus filhos e deles ouvir esse tipo de manifestação.
Parei, sentei e fiquei, um pouco como quem não quer nada, observando aquela cena – inebriado, morto de saudade, revisitando as minhas memórias, revolvendo o passado -, coração acelerado e apertado bafejado por um frio que não sei de onde vinha.
Tudo o que vivi foi passando e repassando sob a minha retina, a acelerar ainda mais os meus batimentos cardíacos, o que é bem próprio da minha personalidade, saudosista empedernido que sou.
Durante muitos anos eu também senti a doce sensação de ouvir as mesmas manifestações de carinho. Da minha filha ouvi, incontáveis vezes, que me amava. Muitas vezes pensei, até, que o seu mundo se resumia à minha pessoa. Cheguei a pensar – claro que equivocadamente – que somente da filha mulher poder-se-ia esperar essas manifestações de afeto. Filho homem, para mim, nunca seria capaz de um gesto de carinho, quiçá em face da minha relação fria e conflituosa com o meu pai.
O tempo passou, ela cresceu – e emudeceu.
Decerto que me ama. Mas não diz mais “papai, eu te amo”, como fazia quando em criança. Não sei se por timidez ou esquisitice.
Mas isso é apenas um lado da moeda. Muitas vezes amamos em silêncio. Ela deve me amar em silêncio, como eu a amo e sempre amarei, também em silêncio, mas agindo de forma a deixar claro o meu amor – eterno amor de pai, incondicional amor de pai.
Sinto muita falta dos seus carinhos e de sua maneira espontânea de ser, quando em criança. Mas a tudo compreendo. O amor compreende, o meu amor compreende. Vou sempre compreender, pois o meu amor não tem limites – e a minha compreensão, idem.
Ela cresceu, virou mulher – e mudou. Mudou como mudam as pessoas. Ela não é diferente de ninguém, ainda que queiramos que seja diferente.
Todavia, o mais importante é saber que me ama, sei que me ama – mas não sabe dizer “eu te amo”; como eu também a amo e, da mesma forma, não sei traduzir com palavras o meu amor.
Antes que alguém a condene, registro que ela é, rigorosamente, igualzinha a mim.
Eu sempre amei muito, mas sempre tive dificuldades de dizer “eu te amo”. E acho que, por ser assim, devo ter feito sofrer as pessoas que, como eu, também ousaram um dia cogitar ouvir de mim esse tipo de manifestação.
Agora, passados os anos, cabelos encanecidos, sentindo o natural afastamento dos meus filhos, que estão a construir a sua vida, começo a sentir, naturalmente, a falta de carinho; o mesmo carinho que, reconheço, não fui capaz de dar à minha mãe, conquanto a ame extremadamente, como sói acontecer.
Voltando à criança no colo do pai, lembro que, embevecido e saudoso, fiquei muito tempo olhando aquele chamego; um chameguinho gostoso, embalado por sonoras gargalhas e abraços apertados, daqueles que prejudicam o fôlego.
Quero que os leitores do meu blog recebam essas reflexões como uma reafirmação de que para mim só existem duas alternativas na vida: viver ou morrer de amor. O amor, afinal, em mim excede. Tenho-o para dar, vender e emprestar.
Entorpecido pelo amor que me acalma e que no mesmo passo me corrói, eu tenho, nesse cenário, exigido muito pouco; a mim me bastava, para embalar os sonhos que acalentei um dia, ouvir um sonoro “papai, eu te amo”.
Enganam-se os que pensam – se é que há quem pense assim- que a matéria me apraz; o material em mim nunca foi – e nunca será – sublimado. Sou do tipo que cultiva as mais singelas manifestações: de amor, de saudade, de carinho, de afago, de aconchego e de apego.
Eu sou assim. Sempre fui assim, E assim sempre serei: só o amor me apraz, definitivamente.
Lindo sua declaração tio. Realmente devíamos demonstrar e falar mais os nossos sentimentos, principalmente para aqueles que só querem o nosso bem, para aqueles que nos amam.
Fica aqui a minha demonstração de carinho pelo senhor, te amo sogrão.
E a sogrona também. Vocês são exemplos na minha vida.
Bela reflexão eminente e respeitável pensador. Tenho uma filha de 1 ano e nove meses que todos os dias de forma exaustiva no sou ouvidinho sussurro o quanto é grande o meu amor. Espero ansioso o dia que ela enfim fale e compreendendo mesmo que de forma muito tenra as coisas do coração, me solte um sonoro “Eu te amo papai”. Me emociono só de imaginar. Abraços respeitável mestre.
Bela reflexão eminente e respeitável pensador. Tenho uma filha de 1 ano e nove meses que todos os dias de forma exaustiva no sou ouvidinho sussurro o quanto é grande o meu amor. Espero ansioso o dia que ela enfim fale e compreendendo mesmo que de forma muito tenra as coisas do coração, me solte um sonoro “Eu te amo papai”. Me emociono só de imaginar. Abraços respeitável mestre e parabéns pelo texto, que com a sutileza e inteligência que lhe são peculiares nos leva a viagens reflexivas bastante agradáveis.
Posso dizer, sem receio de incidir em equívoco, que sua filha não só o ama infinitamente como também nutre uma admiração imensa. Parabéns pelo texto. Honrosa homenagem!