O Pleno e a dama de preto

Cada um de nós tem seus medos, suas idiossincrasias, seus temores. Não podia ser diferente. D. João VI, por exemplo, tinha medo de siris, caranguejos e trovoadas. Consta que, durante as trovoadas – que eu tinha pavor quando era criança – , em face das frequentes tempestades que assolavam o Rio de Janeiro, D. João VI se refugiava em seus aposentos, na companhia de seu roupeiro predileto, Matias Antonio Lobato. Com a vela acessa, ele e seu roupeiro faziam orações a santa Bárbara e são Jerônimo, até que cessassem os trovões (Laurentino Gomes).

Depois que cresci, no máximo me espanto com um relâmpago inesperado. Essas coisas, portanto, não me atemorizam. O que me dá medo mesmo, o que me apavora é o ridículo, por isso me preparo para as sessões do Tribunal, e só me envolvo na discussão de temas que tenho o mínimo de conhecimento, o que, para uns poucos, parece uma atitude arrogante.

A propósito do temor do ridículo, ontem, na sessão do Pleno, onde se espera que as pessoas de preto tenham o mínimo de postura, determinada senhora, muito próxima de pessoas que me querem bem,  fazia mungangos e macaquices, tentando me ridicularizar, enquanto eu apresentava o meu voto, na eleição do novo desembargador, já tendo ela apresentado o seu, sem nenhuma fundamentação.

Consta que essa senhora pedia, em lugar inapropriado, que eu encerrasse meu voto,  como se eu estivesse falando asneiras; logo eu que passei 48 horas estudando os dados dos colegas, para votar, como sempre faço, com convicção, e que tenho a fama de ter o mínimo de noção das coisas que falo e escrevo.

As pessoas, quando não têm pudor e senso do ridículo, se comportam mal e esquecem a liturgia do cargo, sem se darem conta de que ridícula não é a pessoa a quem tentam ridicularizar; ridículo é o profissional que, mesmo beirando os dias da aposentaria, ainda não têm a real dimensão do seu mister.

Eu tenho pavor de ser ridículo; há pessoas que preferem sê-lo.

Fazer o quê?

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Um comentário em “O Pleno e a dama de preto”

  1. Desembargador, agora pouco tive a satisfação de ver a clareza de suas palavras e a coerência de sua fala, e como sempre afirma, observei sua preocupação em tecer comentários àquilo que pelo menos tem um pouco de noção! Gostaria de parabenizá-lo pelo blog, e dizer-lhe que a sociedade maranhense fica mais tranquila em saber que no Tribunal de Justiça, ainda existem pessoas que se preocupam realmente com uma verdadeira prestação jurisdicional, com dignidade, honestidade e ética acima de tudo.
    Parabéns!

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