O templo e os oportunistas

Uma leitora da Folha de São Paulo, no Painel do Leitor, dizendo se negar a sair à ruas, para novas manifestações, como propôs Elie Gaspari, a propósito da mais uma presepada de Renan Calheiros, aproveita o ensejo para lembrar ao colunista, que os políticos não são os únicos desonestos, ao tempo em que narra que, estando numa igreja e tendo esquecido o seu aparelho de telefone celular no local onde estava sentada, ao retornar, o mesmo já tinha sido subtraído, provavelmente por um fiel que estava rezando e condenando os que agem como Renan Calheiros.

Não deixa de ter razão a leitora. Aliás, ela tem muita razão. É muito estranho mesmo que as pessoas condenam as ações ilícitas dos políticos, para, na primeira oportunidade, fazerem exatamente a mesma coisa. Aliás, essa tem sido a minha cantilena. Tenho dito, nesse sentido, que só pode se arvorar de honesto quem, tendo a oportunidade de praticar uma ilegalidade ou um desvio de conduta, não o faça.

Eu, confesso, conheço pessoas, sim, que invocam a todo momento a palavra de Deus, que são assíduas nos templos religiosos, as quais, no entanto, levam uma vida dissoluta, não respeitam pai, mãe, filhos, amigos e quem mais possa cruzar o seu caminho, e não perdem a oportunidade de fazer uma bandalheira.

A leitora, nesse sentido, tem razão, sim, de condenar a ação de seu ou sua colega de templo, pois num ambiente desses é onde menos se espera que as pessoas sejam capazes de fazer o mal a alguém ou de dilapidarem o patrimônio alheio, ainda que se possa argumentar que, por se tratar de bem perdido, não restasse tipificado nenhum tipo de crime.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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