Dizem que o que o Brasil tem de melhor é a sua gente; e não tenho dúvidas. O povo brasileiro é mesmo um povo bom. Nós somos, sim, solidários na dor. Estamos disponíveis para ajudar um amigo, um vizinho ou um parente nas suas dificuldades.
Mas nessa constatação há algo que me inquieta, porque parece contrariar a máxima acima: por que, no mundo da política, preponderam os malfeitores, os crápulas e oportunistas?
Acho que não preciso sequer citar exemplos, nominar pessoas. Está tudo aí, à vista de todos, claro como a luz solar. Todos vemos. Todos testemunhamos. Só não vê quem não quer ver.
Em situações recentes e extremas a diferença abissal entre povo e classe política/dirigente se mostra por inteiro. Agora mesmo, vejo, na Folha de S. Paulo, que a presidente Dilma vai liberar recursos, sem projetos, para que os prefeitos possam enfrentar as consequências das chuvas no Espírito Santo.
Até aí, nada demais! Tudo que puder ser feito para minimizar a dor das vítimas deve ser feito mesmo. E a burocracia emperra mesmo; atrapalha, muitas vezes.
Palmas, pois, para presidente, para sua sensibilidade.
Acontece que a própria presidente admite que o óbvio pode ocorrer, ou seja, os recursos podem ser desviados. Todavia, ainda assim, vai liberá-los, e seja o que Deus quiser. E esse temor não é infundado, devo dizer. Assim é que o que a presidente imagina uma possibilidade, eu tenho como certeza.
Vai acontecer, sim, o que todos tememos, mas entrevemos: os recursos serão mesmo desviados, afinal, eles não têm consciência, não têm pena do miserável. O que puderem levar para os bolsos, levarão, sem o menor constrangimento. Depois, é só esperar o próximo verão, que tudo se repetirá.
No outro extremo, a reafirmar que o povo brasileiro é um povo bom, vejo o exemplo da balconista Marineia Rodrigues de Coura Dominici e do seu marido Rui Dominici. Eles perderam tudo que construíram, nos 21 anos de casos, para as chuvas.
Mas não ficaram chorando pelos cantos, lamentando o revés, o que seria mais que natural e justificado. Mas não! Eles se juntaram aos voluntários e estão ajudando as demais vítimas das chuvas, aqueles que, na compreensão deles, estão pior que eles.
Este é um belo e eloquente exemplo de que o povo brasileiro é mesmo um povo bom; aquele, é o reverso da medalha. É o exemplo do Brasil crápula, bandido, oportunista e insensível. É a prova provada de que os homens públicos brasileiros, de regra, veem o próprio umbigo como o centro do universo.
E o resto? Bem, para eles, o resto é resto, e nada mais.
É isso.