Muitas vezes, pensamos de nós e concluímos sobre nós o que nem sempre é a percepção dos outros. Ao constar essa realidade, nos flagramos, de regra, decepcionados e tristes – quando não deprimidos. Assim como qualquer outra pessoa, também, às vezes, faço de mim o juízo que não corresponde à avaliação dos meus congêneres.
Nesse sentido, lembro-me de que, certa feita, estando com a minha família em viagem de férias, procurei, como sempre, servir e agradar, de todas as formas, aos meus filhos e à minha mulher, o que é próprio da minha personalidade.
Não sei e não gosto de infelicitar as pessoas; se eu não tiver condições de estabelecer uma relação prazerosa com os que estão em volta de mim, seja no trabalho, seja na minha família, eu não fico bem comigo mesmo.
Conforme eu dizia, nessa viagem de férias procurei fazer de tudo que estivesse ao meu alcance para que todos ficassem numa boa, para que as férias fossem prazerosas e, se possível, inesquecíveis, por tudo o que de bom fosse desfrutado por nós.
Determinado dia, depois de muitas concessões a todos e bem poucas a mim, sem nada reclamar, para não ser desagradável, mesmo em face do brusco rompimento da minha rotina, resolvi bater o martelo e decidi que naquele dia eu voltaria para o hotel a fim de almoçar no meu horário (meio-dia) e para tirar uma sesta, já que estava com saudade da minha rotina. Isso foi o bastante para que me elegessem, em votação aberta e por unanimidade, o, digamos, menos simpático da viagem, – sem nenhuma concessão, sem apelo.
O mais grave é que eu, na minha (falsa) percepção – e aqui está o ponto principal dessas reflexões – imaginava exatamente o contrário, a reafirmar, mais uma vez, como diz o título desse artigo, que somos enlouquecidos pelas nossas certezas, daí o perigo de uma falsa percepção de nós mesmos, como é comum ocorrer, sobretudo com os que têm a vaidade desmedida e que consideram seu umbigo como o centro do universo.
Não preciso dizer da minha inquietação, da minha frustração, do meu desapontamento com a minha “eleição”, muito embora, depois, tudo tenha se transformado em uma grande gozação, o que, afinal, era mesmo o que pretendiam os meus filhos e minha mulher, competentes e fiéis administradores das minhas manias.
Mas, ainda assim, fiquei com uma pontinha decepção, porque vi nessa manifestação a constatação de um fato, que eu, com as minhas equivocadas certezas, não tinha conseguido perceber. Ainda tentei argumentar em minha defesa, mas não fui nem um pouco convincente, pois, quanto mais eu tentava argumentar, mais eles reafirmavam que eu tinha sido pouco simpático, cheio de manias, cheio de rotinas, e que as rotinas, em viagem, eram para ser quebradas, o que, de rigor, estou de acordo, tanto que só pedi um dia de concessão, o que me foi terminantemente negado.
Mas o que importa mesmo é a constatação de que os loucos iguais a mim vivem os seus delírios, creem nos seus sonhos, se equivocam nas suas certezas e sofrem por isso.
Quanto ao incidente aqui relatado, posso afirmar com alegria que no final tudo se transformou em uma grande festa, daquelas que ocorrem, naturalmente, numa família unida e que se ama verdadeiramente
A certeza que eu tinha de ter me doado ao máximo aos meus filhos para lhes proporcionar as férias dos sonhos, quase me “enlouquece”, ao constatar que, diferente do que eu pensava, eu apenas delirava.
Mas o que importa mesmo é que, ao fim e ao cabo, depois de tudo, vivemos e vivenciamos momentos inesquecíveis na companhia um do outro. É que a “eleição” foi apenas um detalhe, uma grande gozação, que nos divertiu e nos uniu ainda mais, pois, afinal, o que sobreleva, o que assoma, o que se consolida mesmo, com força voraz e incontrolável, em torno dessas e de outras questões, é o amor que nos une e a necessidade que temos de estar juntos, respeitando sempre a individualidade de cada um, entendendo que se deve ceder, sempre que for necessário, em nome do amor e da união que devem prevalecer nas relações familiares.