PENSE NAS COISAS PEQUENAS E SERAS FELIZ

Ouvi, muitas vezes, de pessoas que tinham alguma ascendência sobre mim, que, na vida, para vencer, era preciso pensar grande. Pensar grande na visão dessas pessoas, é almejar mais, sempre mais, pouco importando os meios que nos levem a alcançar esses objetivos. Em outras palavras: era preciso ser ambicioso, agir sempre com determinação para alcançar mais, muito mais, deixando claro, nesses ensinamentos, que, para ir além, o céu seria o limite.

Eu, felizmente, nunca assimilei essas lições. Eu sempre pensei miúdo, no sentido de que sempre fiz as coisas com os pés no chão, sempre me conformei com pouco. Nunca pretendi ir além do que fosse possível alcançar. Meu horizonte nunca foi muito distante, o que, claro, deve ser uma deformação da minha personalidade. Sempre almejei o básico para sobreviver com dignidade. A mim me bastava uma família e condições materiais para lhe oferecer o mínimo de conforto.

É claro que, por pensar assim, durante muito tempo, vendo a ascensão dos ambiciosos, dos que pensavam grande, passei algum tempo me penitenciando, com a sensação de ser um tolo, um estranho no mundo de competição, onde os mais espertos, os mais atilados, os mais ambiciosos e destemidos sempre levam vantagens.

Ficou em mim, nesse cenário, a sensação, como uma penitência, de que podia ter ido além e que, por ser covarde, fiquei sempre aquém. Nesse sentido, durante muito tempo me senti perseguido por esse sentimento. Hoje, no entanto, amadurecido, vejo, conformado, que, sem ambição, fui além do que podia imaginar, na certeza, agora, de que, sendo como sempre fui, sou mais feliz.

Aprendi, também, com a vida, a sublimar as coisas mais simples, a não me agastar excessivamente com os problemas do mundo, a fixar a minha visão nas coisas singelas, a curtir os momentos mais simples: ouvir música, ler um livro ou assistir a um filme, sem, no entanto, ser alienado.

Ao invés de me agastar com os problemas para cuja solução não posso sequer dar a minha contribuição, procuro curtir os momentos que reservo  à convivência familiar, ao meu e-books, ao meu tablet, a minha biblioteca, ao meu quarto de dormir, a um passeio, no final de tarde, num shopping, uma viagem com a família.

No mesmo passo, como disse acima, descuro, abstraio as coisas grandes, aquilo que não posso alcançar, o que não posso resolver, limitando-me a olhar em volta e pensar nas coisas simples da vida, buscando usufruir apenas do que sei que posso alcançar com o fruto do meu trabalho, para não ter que cair na tentação que tem levado muitos à desmoralização pública.

Essas reflexões nunca vêm por acaso. Elas quase sempre surgem de uma leitura que realizo e da qual sempre procuro tirar uma lição, além do prazer que decorre, naturalmente, de estar lendo.

A inspiração para esse artigo, especificamente, veio de um romance que acabo de ler, cuja passagem que me impeliu à reflexão menciono a seguir.

Theo, filho do protagonista Henry, no romance Sábado, de Iam McEwan – romancista inglês dos mais conhecidos de sua geração, autor, dentre outros, dos romances Serena, O Inocente, O Jardim de Cimento, Reparação e Solar -, em determinado momento de um diálogo com o protagonista, soltou um aforismo que foi ao encontro do que penso hoje. Disse, com efeito, que, quanto mais abrangente é o nosso modo de pensar, mais tudo parece escroto.

O pai dele, em face disso, pediu-lhe que explicasse melhor, e ele disse:

— Quando a gente olha para as coisas grandes, a situação política, o aquecimento global, a pobreza do mundo, tudo parece mesmo horrível, nada está melhorando, não há nada de bom para esperar. Mas então eu penso nas coisas pequenas, próximas… sabe como é, uma garota que acabei de conhecer, ou essa música que a gente vai tocar com o Chas, ou brincar na prancha de esquiar na neve, no mês que vem, e aí parece ótimo. Então, o meu lema será este: pense nas coisas pequenas (McEwan, Ian. “Sábado.” Companhia das Letras. eBooks). 

Claro que é impossível, no sentido pregado na obra ficcional, a gente se desligar, definitivamente, dos grandes problemas nacionais, tais como a corrupção que assolo e destrói a nossas esperanças, levando a reboque os nossos sonhos, do descredito das nossas instituições e dos nossos representantes, da violência que grassa, da malandragem dos que, no poder, o exercem sem controles morais, pois isso só seria possível se assumirmos a condição definitiva de alienados; e, se assim procedêssemos, seria como que entregar de vez o país aos espertalhões, que, é fácil constatar, só pensam em seus interesses.

Mas é possível, sim, desviar o pensamento dos grandes problemas nacionais e, até internacionais, para sublimar as coisas pequenas que são as que nos  trazem felicidade.  como, por exemplo, um almoço em família ou uma roda de bate-papo com as pessoas para as quais destinamos os nossos afetos.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Um comentário em “PENSE NAS COISAS PEQUENAS E SERAS FELIZ”

  1. Boa noite. Como viver como exemplificado, o tribunal que tramita o processo que já cansei de denúnciar é passional. Os pedidos para prejudicar o andamento só aumentam, bem como falsos comentários sobre mim. Porém, o processo é fidedigno.

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