ADVERSÁRIO DE MIM MESMO

Nós, de regra, não estamos preparados para derrota. Muito cedo aprendemos, por exemplo, que, numa disputa qualquer, é preciso ganhar.
Ouvi – e ainda ouço – de muitas pessoas a seguinte recomendação aos filhos: se apanhar na rua, apanha em casa também. É dizer: a sociedade nos condiciona para a vitória, pois, na sua concepção, é feio perder.
E assim, numa contenda qualquer, somos instados a vencer, nem que seja numa rinha de galo, onde os protagonistas não são os que tiram proveito da vitória ou sentem os dissabores da derrota.
A grande verdade é que ninguém quer ser apontado como perdedor, uma vez que, ao contrário disso, todos nós almejamos vencer.
É assim na vida pessoal; é assim na vida profissional.
Contudo, a vida não se constrói apenas com vitórias. Ela é assim: perde-se aqui; ganha-se acolá. Logo, é preciso saber perder e ganhar.
Essa máxima da vida, no entanto, não se aceita com naturalidade.
Daí a razão pela qual há pessoas que, diante da derrota, seja ela de qual dimensão for, se descabelam, praguejam, agridem, perdem o controle, se indispõem com os amigos e até com os parentes mais próximos.
Mas quando se entra numa disputa, seja ela de que nível for, tem-se que saber que podemos, sim, perder ou ganhar. Essa é uma verdade comezinha que nem todo mundo é capaz de entender.
Ser vencedor, sair vitorioso de uma contenda, sobrepujar o adversário faz bem à mente – e é o que todos almejam, enfim, porque, como disse acima, a nossa personalidade foi forjada para vencer. Daí a dificuldade de muitos de nós para conviver com a derrota, conquanto saibamos da sua inevitabilidade ao longo da nossa vida.
Claro, portanto, que todos nós queremos ganhar. Entretanto, nem sempre é possível vencer, razão pela qual deveríamos, desde a mais tenra idade, estar preparados para a possibilidade de uma derrota, em face da sua inevitabilidade.
Diante da inevitabilidade de uma derrota nas mais diversas contendas da vida, recomenda o bom senso que se analisem as razões da derrota para, nos novos embates, tentar sobrepujar o adversário (sentido amplo), porque, afinal, a vida é assim: ela nos impõe constantes contendas para as quais nem sempre estamos preparados para vencê-las.
Essas questões são de fácil compreensão, pois, qualquer um de nós, com o mínimo de bom senso, é capaz de compreender essas linhas introdutórias iniciais dessa reflexão.
O bicho pega mesmo é quando perdemos a batalha para nós mesmos. É quando somos derrotados pelas nossas próprias fraquezas. É quando deixamos que a nossa mente nos leve à lona, quando somos nocauteados pelas nossas próprias idiossincrasias.
Curiosamente, o conflito que travamos com nós mesmos é o conflito mais difícil de administrar. Nesse diapasão, temos que ter força interior para enfrentar os nossos medos, as nossas angústias, as nossas fraquezas.
Eu, muitas vezes, não soube enfrentar essas questões. E em algumas delas sucumbi como um gladiador que desaba numa arena. E embora eu me apresentasse para mim mesmo como um forte contendor, constatei depois que fui meu próprio adversário; e perdi. Perdi feito.
Diante disso, saí da pugna machucado, sofrido, arrasado, um trapo, um resto de gente. Então, decidi que para enfrentar o mundo exterior, para enfrentar o inimigo, eu precisava primeiro vencer os meus medos, as minhas angústias, o meu açodamento, a minha ansiedade. Só depois de vencer essas batalhas internas foi que pude sobrepujar os inimigos externos.
A minha maior batalha, portanto, eu travo comigo mesmo; a minha maior vitória e a minha maior derrota foram em face de mim mesmo.
A vida parece simples; e é mesmo, desde que não a compliquemos e sejamos capazes de compreender as nossas limitações, as nossas fraquezas.
Mas eu não fui sempre assim, nem sempre tive essa compreensão.
Para mim, viver era algo muito mais complexo, estando a complexidade em mim e não nos desafios que a vida me impunha.
A verdade é que só passei a entender a beleza e a simplicidade da vida quando superei os meus medos, as minhas fraquezas, as minhas angústias.
Eu só passei a viver bem comigo mesmo e com o meu semelhante, quando entendi que eu, assim como todo ser humano, tenho inúmeras virtudes e incontáveis defeitos.
Viver, portanto, pode não ser algo tão difícil se nos dermos conta de que, a cada desafio e diante de cada derrota, podemos tirar lições para nos fortalecer interiormente, em vez de, simplesmente, sucumbir e chorar o leite derramado.
Não adianta a armadura de um gladiador, o revólver do Zorro, as mágicas do Mandrake, a ambição do Tio Patinhas, os cabelos de Sansão, o estilingue de David, a perspicácia do Mickey, a destreza do super-homem, as teias do Homem Aranha e a força do Hulk, se não tivermos a capacidade de enfrentar o inimigo que habita em cada um de nós, limitando, impondo, muitas vezes, a sua vontade.
É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.