ONDE O BICHO PEGA

De regra, é preciso admitir, não estamos preparados para a derrota, em qualquer campo de atividade e em qualquer relacionamento. É que, desde muito cedo, nos ensinam, que, numa disputa qualquer, é preciso vencer, daí que nos condicionam, equivocadamente, para a vitória ao tempo em que não nos orientam para a derrota.

A verdade é que todos, naturalmente, ambicionamos vencer; e é compreensível que assim o seja, afinal vivemos numa sociedade competitiva, marca das sociedades capitalistas. Todavia, é preciso ter presente que uma história pessoal não é feita apenas com vitórias: perdemos aqui; ganhamos acolá, sendo essa, decerto, a lógica da vida.

Nada obstante, diante da inexorabilidade dos reveses, nas mais diversas contendas, recomenda o bom senso que os mais experientes nos preparem, desde a mais tenra idade, para a inevitabilidade das derrotas que permearão as nossas vidas.

Nessa senda, importa dizer, agora, no que verdadeiramente interessa para essas reflexões, que, num mundo de extremada competitividade, o “bicho pega” mesmo é quando perdemos a batalha para nós mesmos, para nossas fraquezas e idiossincrasias.

O conflito que internamente travamos, reconheçamos, é o mais difícil de ser vencido, disso inferindo-se que é preciso força mental redobrada para enfrentar os nossos medos, as nossas angústias.

De minha parte, devo admitir, não fui capaz, algumas vezes, de enfrentar as dificuldades impostas pela vida, sucumbindo, muitas vezes, por insegurança, por medo e por covardia, decorrência natural da minha fraqueza interior.

Nesse cenário, me apresentei para a disputa imaginando-me um forte contendor, mas constatei, depois, que fui adversário de mim mesmo, razão pela qual sucumbi, deixando a luta machucado, sofrido, arrasado – um trapo, enfim.

A vida do simples é boa, ensina a canção; e pode ser mesmo, desde que aceitemos as nossas limitações, compreendamos as nossas fraquezas, nos preparemos para os embates da vida e, no mesmo passo, aceitemos a inevitabilidade das derrotas, sobretudo quando elas decorrem das nossas frágeis armaduras interiores, as quais recomendam redobrados esforços para a luta diária, o que tenho feito há algum tempo, fruto da minha evolução pessoal.

Mas eu nem sempre fui assim, nem sempre me comportei como devia, daí que a vida para mim não era tão simples e nem era tão boa como nos dias presentes, o que só compreendi depois que superei os meus conflitos internos e os  que eu tinha com o mundo.

Viver, portanto, pode não ser algo tão difícil, se compreendermos que, em face das derrotas – e mesmo diante de uma vitória -,  é de rigor que assimilemos as lições ministradas no embate,  as quais, certamente, nos prepararão e nos fortalecerão para os inevitáveis combates vindouros.

Definitivamente, digo em arremate, não adianta a armadura de um gladiador, o revólver do Zorro, as mágicas do Mandrake, a ambição do Tio Patinhas, os cabelos de Sansão, o estilingue de David, a perspicácia do Mickey, a destreza do Super-Homem, as teias do Homem-Aranha e a força do Hulk, se não tivermos a capacidade de enfrentar o inimigo que habita em nós.

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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