ANO NOVO, VIDA NOVA


Refletindo em face do título acima, devo dizer, de logo, que não
sou daqueles que se deixa levar por essa percepção, daí a minha conclusão de
que tudo tende a ser como sempre foi, na medida em que a vida nova que a
humanidade reclama não resulta das datas convencionadas, mas da mudança de
comportamento do ser humano.

A verdade é que o homem tende a ser o mesmo de sempre
(homo homini lups), pouco importando se se trata de ano novo ou ano velho, o que me faz concluir que a mudança convencionada pelo calendário deve ser analisada na dimensão que efetivamente tem: nada mais que uma simples divisão de tempo, que não implica, necessariamente, em mudança de rumo.

É bem de ver-se, pois, que a mudança que importa não está, assim compreendo, na mera mudança de datas, que decorre apenas de uma sucessão de dias, em vista da percepção de que a transformação definitiva, capaz de ressignificar a existência do homem e, por consequência, sua relação com o semelhante, só ocorrerá quando compreendermos que, acima de tudo, é preciso
amar as pessoas como se não houvesse amanhã (Renato Russo).

Nessa medida e nessa perspectiva, tendo a concluir que, sem
amar o próximo, incondicionalmente, passam os anos, a vida passa e tudo tende a ser como sempre foi, constatação que não decorre de uma visão pessimista, mas em face da realidade que se revela diante dos meus olhos.

A maldade do homem, em todas as suas dimensões, razão de tantas desavenças, de tantos infortúnios, de tanto sofrimento, tende, independentemente do calendário, a permear, doravante e como sempre foi, as nossas relações, a fazer concluir, com o perdão do clichê, que, se é verdade que só o amor constrói, não é menos verdadeiro que o ódio e a maldade do homem estão presentes para solaparem os nossos sonhos.

Exemplos da maldade humana, sobretudo quando a questão condiz com a busca de vantagem material – para ficar apenas numa vertente dentre as diversas faces nas quais ela se manifesta – estão aí a olhos vistos para dar sustentação a essas reflexões, sendo oportuna, nessa senda, a conclusão de
Edilson Mougenot Bonfim, segundo a qual, se o homem não vivesse o instinto de dominação, nas suas mais variadas concepções, poderíamos beber água do
mesmo rio, mesmo um sendo lobo e o outro, ovelha.

A verdade é que a luta do homem é quase sempre em face do
próprio homem. Nesse sentido, vivemos lutando contra a inveja, o preconceito, a vingança, o ódio, a perfídia, a prepotência, a arrogância, a perseguição, a maldade e o fanatismo, que são sentimentos que, triste concluir, continuarão a permear as nossas vidas, pouco importando o que marca o calendário, que nada mais é do que um sistema que serve à contagem e ao agrupamento de dias, no afã de atender às necessidades civis e religiosas de uma cultura.

É preciso admitir, ainda que se possa entrever nessa afirmação uma inquietante manifestação de pessimismo, que nenhum animal que habita a terra é capaz de infligir, conscientemente, tanto mal ao semelhante quanto o próprio homem, muitos dos quais, com uma certa dose de cinismo/insensibilidade, praticam maldades em nome daquele que veio à terra para ensinar e pregar o
amor incondicional ao próximo.

O homem incapaz de amar ao próximo nunca será capaz de considerá-lo um irmão, posto que o tem como um desafeto, um inimigo em potencial, sobretudo se obcecado em face de uma paixão desmedida, dessas que, temos testemunhado no dia a dia, de tão intensa, lhe oblitera a capacidade
cognitiva.

É de se compreender, portanto e em arremate, que se o calendário muda, mas o homem permanece o mesmo, não nos iludamos, pois tudo tende a ser como sempre foi.
É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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