DIAS DIFÍCEIS

Vivemos dias difíceis, dificuldades que decorrem, sobretudo, da assunção
de posições radicias por parte de muitos de nós, as quais nos têm levado, no mesmo passo, à adoção de posições extremadas, à luz de uma percepção distorcida da realidade, comprometida com a veiculação, sem limites, de inverdades nas redes sociais, a exemplo da interpretação equivocada do artigo 142 da CF.

Diante da constatação que encerra a afirmação acima, e as consequências dela decorrentes, não serão poucos o que, decerto, indagarão, movidos por um sentimento de obviedade: qual a novidade de que os dias serão difíceis?

Eu, cá do meu canto, respondo: nenhuma novidade, afinal, as dificuldades dos dias presentes saltam aos olhos dos que querem vê-las, conquanto, muitas vezes, elas não sejam devidamente dimensionadas, disso resultando as
incompreensões que todos temos testemunhado, com graves consequências para as relações interpessoais e, até, para as nossas instituições.

Para superação dessa quadra triste da nossa história, que nos tem levado aos dias difíceis que vivemos, o que importa para essas reflexões é perquirir por
que, sendo racionais, muitos de nós não somos capazes de compreender – e de agir de acordo com essa compreensão – que não é razoável nos contaminar por paixões exacerbadas e por falsas pregações, na medida em que elas podem nos conduzir – como efetivamente têm conduzido muitos – a uma falsa percepção da realidade e à tomada de posições inauditas e dignas de reproche, como as que resultaram no já famigerado dia no qual atos golpistas foram encetados na capital da República?

Diante do que testemunhamos no último dia 08 de janeiro, e de tantas outras posições açodadas/equivocadas/extremadas que nos têm conduzido aos dias
difíceis pelos quais passamos, o que importa agora é resgatar, sem mais demora, a sensatez e o bom senso que nos foram subtraídos, de cujo resgate, tenho certeza, resultará a mudança de direção que poderá nos conduzir à a uma convivência fraterna.

Infelizmente, o que tenho testemunhado, em face dos momentos
turbulentos pelos quais passamos, é que há uma forte resistência de muitos em admitir, à luz dos fatos, estar equivocados, ante uma compreensão daninha de que a reavaliação de conceitos, na atual quadra de esgarçamento das relações sociais, seria, no mesmo passo, fornecer munição aos que estão na trincheira oposta, numa visão apequenada da realidade.

De minha parte, devo dizer que, diante de uma realidade factual que me
convença de ter assumido uma posição desfocada da realidade, não tenho dificuldades de assumir posição diversa, disso resultando que, concluindo não estar de acordo comigo mesmo, rendo, sem hesitação, vassalagem aos fatos, assumindo posição consentânea, pouco importando como serei julgado pelos radicais para os quais o recuo nada mais é que uma ação covarde.

Não é isso, nada obstante, o que tenho verificado, sobretudo quando a
questão envolve posição/paixão política denodada, da qual resultem ificuldades
cognitivas que obliteram a mente, anuviando a capacidade de discernimento que todos devemos ter e que nos diferencia dos demais animais que habitam a terra.

O que todos temos visto, nos momentos difíceis pelos quais passamos, é uma enorme dificuldade que muitos têm de admitir o erro, de retroceder, de reavaliar posições, como se fosse uma tibieza, quando, em verdade, deve ser entendida como uma demonstração de grandeza que só não se espera mesmo dos radicais.

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.