A historia registra que em 1831, quando foi obrigado a abdicar da Coroa brasileira, D. Pedro I, antes de embarcar no Warspite, navio inglês que o acolheu, recebeu a visita de um ex-ministro, Francisco Vilela, marquês de Paranaguá, que lhe pedia socorro, em face de sua situação financeira precária.
D. Pedro I, com aspereza, disse ao ex-ministro que não podia dele cuidar, que nada podia fazer, porque já estava ajudando muita gente.
Diante dessa inesperada manifestação de D.Pedro, o marquês disse, então, que seria obrigado a voltar a Portugal, onde teria direito a uma pequena aposentadoria, no que foi, mais uma vez, rechaçado por D. Pedro I.
Diante dessa reação de D. Pedro, o marques de Paranaguá, desesperado, o fez ver que não tinha fortuna, que era um homem pobre e que só tinha o subsídio para viver. D. Pedro, então, manifestando o mau caráter que era, disse ao marquês para que fizesse o que bem entendesse, pois que isso não era de sua conta. E arrematou: “por que não roubou como Barbacena?”
A conclusão desse diálogo engulhento é que o marquês de Paranaguá estava sendo penalizado por não ter se aproveitado do poder que teve para se locupletar, para malversar verbas públicas, para enriquecer. O marques de Paranaguá, aos olhos de D. Pedro I era um tolo apenas, um bobalhão, um demente que, podendo, não roubou e que, agora, por ter sido honesto, teria que pagar o preço que sua honestidade lhe cobrava.
Essa cultura de ter que usar o poder para dele se locupletar está enraizada entre nós. Quem exerce o poder e dele não faz uso para fazer o pé-de-meia, ao que se infere dessa e de outras tantas histórias igualmente repugnantes, é otário, é boboca, um tolo que merece mesmo é sofrer, passar necessidade, para aprender que o poder é feito para dele se levar vantagem.
Com essa cultura disseminada entre nós, com essa inversão de valores, nós não podemos mesmo prosperar.
Enquanto vivenciarmos e aplaudirmos a cultura da esperteza, da malandragem nós não deixaremos de ser um república terceiro-mundista.