No domingo, dia 23 de agosto, assisti na televisão, no programa Pânico, na RedeTv, um dos quadros mais revoltantes, mais deprimentes, mais degradantes que se possa ver. No mencionado quadro, um repórter indagava aos transeuntes – tendo como mote a crise política e moral que assola nossa país, especialmente o Senado Federal – o que achavam de certo político, em evidência nos últimos meses, acusado de vários deslizes morais.
Como de se esperar, em face das notícias iterativas, repetidamente veiculadas acerca da atuação desse homem público, os entrevistados se acharam no direito de destilar a sua revolta, assacando contra ele impropérios vários, alguns dos quais impublicáveis.
O repórter, então, em face dessa reação – já esperada, claro -, propunha aos entrevistados pagar-lhes vinte reais para que, ao invés de falarem mal, elogiassem o político em questão, vez que a matéria era do interesse desse mesmo político.
Os entrevistados, sem titubeio, concordavam com a proposta. Daí em diante, já de posse do dinheiro, míseros vinte reais, passavam a elogiar o político em questão, estimulando-o , até, a não renunciar ao cargo do qual se pretendiam defenestra-lo.
Esse quadro televisivo é emblemático – e engulhante, também.
A partir dele importa indagar: será que todos temos mesmo um preço? Será que a maioria, no exercício poder, faria exatamente as mesmas coisas que condena? Seríamos todos iguais, quando o assunto é levar vantagem?
Esse quadro me fez refletir, mais uma vez, como o tenho feito reiteradamente, acerca da nossa degradação moral.
Felizmente, como um bálsamo, vi, no mesmo quadro, que dois ou três dos entrevistados se recusaram a aceitar a proposta do repórter, dizendo-lhe que não negociavam a sua consciência.
Esse episódio me remete a dois episódios, parecidos entre si, protagonizados por dois homens, em tudo diferentes , e que viveram em épocas também muito diferentes, mas com a mesma conduta moral. Refiro-me ao filósofo Sócrates, e a meu sogro – já falecido – , Firmo Ribeiro de Oliveira.
Sócrates, sabe-se, antes de morrer, com a ingestão de cicuta, homem íntegro que era, lembrou de um dívida que tinha, tendo, em face dessa lembrança, travado com Críton, o seguinte diálogo:
– Críton, eu devo um galo a Esculápio, vais lembrar de pagar a dívida?
– A dívida será paga – disse Críton. (…)
Foi assim os últimos momentos de vida daquele que, para muitos, foi o mais justo e mais sábio dos homens.
Firmo Ribeiro de Oliveira, meu sogro – como Sócrates, também um dos mais justos e honestos homens que conheci – , quando resolveu mudar-se de Cururupu, para cuidar dos seus filhos em São Luis, tentou – com a discordância veemente de sua esposa, que entendeu ser um exesso de sua parte – avisar da sua partida aos moradores da comunidade, no serviço de alto-falantes (nominado Alvorada) da cidade, para que todo aquele com quem eventualmente estivesse em falta, se apresentasse para que honrasse o compromisso assumido – podia ser uma dívida ou uma palavra empenhada.
Quanta falta nos fazem homens dessa estirpe, com esse caráter!