Odeio a sabujice; abomino o puxa-saco

Existem, para mim, poucas coisas mais – ou tão – repugnantes que a sabujice.

Ainda bem que ninguém me bajula. Eu não suportaria.

Quero ser apenas respeitado e tratado com cortesia; subserviência, própria dos aduladores, não tolero.

Não me apraz o elogio gratuito. Não me regalo com obséquio por conveniência.

Quero ser gostado – e admirado, se possível – como um reflexo do que sou e do que faço; nunca em razão do cargo que exerço.

Tenho muitas dificuldades de conviver com a lisonja do interessado.

Parece estranho, para quem tem a fama de arrogante, o que estou dizendo.

Todavia, é esse mesmo o meu sentimento acerca dos bajuladores.

Quiçá essa seja mais uma das razões pelas quais me etiquetaram de arrogante.

O lambe-botas é um ser peçonhento; pérfido, porque não tem personalidade – muda de acordo com as conveniências.

Ouço dizer que os puxa-sacos têm preferência por magistrados de segunda instância.

Não sei. Um dia saberei. Quero saber – e conhecê-los – , mas para deles manter distância.

Puxa-saco é um saco. É um chute nos testiculos. Não confio neles. Eles não são sinceros. Eles gostam de deixar transparecer que são íntimos. Eles colam na gente. São pegajosos, asquerosos – seres desprezíveis. Não confio neles.

Do puxa-saco já se disse tudo; mas dele não se pode esperar nada.

Ele nunca é sincero. Ele está sempre disposto ao gracejo. Gosta de contar lorota. Gosta de uma piada fora de hora. Costuma comer de boca aberta.

O puxa-saco é a materialização da inconveniência. Se toma um copo de cerveja, já quer parecer íntimo. Para os que gostam de sabujice, é um prato cheio.

O sabujo gosta de um mão no ombro, um tapinha nas costas. Aprecia um elogio gratuito. Difícil mesmo é crer no que diz.

Uma fotografia ao lado de sua “vítima” o faz chegar ao paroxismo – quando não ao orgasmo.

O humor do puxa-saco oscila de acordo com humor do ser bajulado.

Não gosto, definitivamente, de bajulice.

Do puxa-saco já se disse quase tudo. Mas tudo que dizem ainda é pouco.

O que apreciam uma sabujice, dos puxa-sacos podem até fazer troça. Todavia, deles tiram proveito. E como tiram! E como gostam!

Mas é pra isso mesmo que eles servem. Por isso, odeio puxa-saco.

Contam que um determinado puxa-saco chegou pro chefe e disse:

– Chefe, o senhor sabe quais são as duas pessoas que eu gosto mais nessa vida?

O chefe responde:

– Bom, deve ser a sua mãe e o seu pai!

– Errou, chefe! A primeira é o senhor, chefe!

E o chefe indaga:

– E a segunda, quem é?

– A segunda o senhor indica, chefe!

Não suporto puxa-saco, definitivamente.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

2 comentários em “Odeio a sabujice; abomino o puxa-saco”

  1. Agora consegui definir o que é comum no Poder Judiciário brasileiro: a sabujice. E como tem magistrado que gosta de uma sabujice e uns bajulos nessa terra que Cabral achou dos íncolas.

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