O perigo de expor o que pensamos

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“Sou duro na queda e vou continuar dizendo o que penso, com responsabilidade e com respeito, para não ferir suscetibilidade, para não macular a honra de ningém. Numa democracia todos têm o direito de pensar e, se for capaz, de traduzir em palavras o que pensa”

Juiz José Luiz Oliveira de Almeida

Titular da 7ª Vara Criminal da Comarca de São Luis, Estado do Maranhão

E fato que nem sempre as pessoas recebem as mensagens que mandamos com o sentido que almejamos. Tenho tido o cuidado, por isso, de, vez por outro, consignar, nas minhas crônicas e nas minhas decisões, que nunca me dirijo a ninguém especificamente, o que não quer dizer que não exista quem, ao lê-las, se imagine sendo retratado nas mesmas.

Na crônica que enviei, hoje, para o Jornal Pequeno, para ser publicada na edição do próximo domingo, dia 25, em determinados excertos refleti:

É mais comum do que se imagina, encontrar um ser humano fantasiado de autoridade, mostrando-se, no mesmo passo, aos olhos dos circunstantes, como apenas mais um bobalhão.

Não é incomum encontrar, encarapitados no poder, tolos que sublimam as virtudes que não têm, para chamar a atenção para suas idiossincrasias, para as suas abomináveis, execráveis fanfarronices.

O mais grave nessa questão é que, por serem tolos, não são capazes de perceber o que todos percebem, ou seja, que não passam de uns babacas, que pensam que têm o talento que não têm.

Conforme tenho constatado, os tolos esquecem que só o cargo, que o poder apenas, a vaidade e a prepotência, jejunas de sensatez e inteligência, não fazem milagres.


Vejam que falo de uma maneira geral, o que não impedirá, no entanto, que existam pessoas que suponham que me dirige a elas, especificamente.

Há algum tempo atrás, numa informação requisitada a mim em face de um habeas corpus, consignei, apenas a guisa de ilustração, que entendia ser condenável que alguém exercesse um cargo público para servir aos parentes e amigos. Pronto! Quase o mundo desabava! Houve que visse nessa minha afirmação uma provocação. Fui representado. Tive que dar explicações.

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Confúcio

Confúcio disse, certa feita:

Quando a ordem perfeita prevalece, o mundo passa a ser como um lar compartilhado por todos. Homens corajosos, valorosos e capazes são eleitos para cargos públicos e conquistam empregos bem remunerados na sociedade. Paz e confiança entre os homens são as máximas da vida. Todos amam e respeitam seus pais e seus filhos, bem como os pais e os filhos alheios. Os velhos são bem cuidados e há empregos para todos. As crianaças recebem alimento e educação. Viúvos, viúvas, deficientes e os que estão sozinhos recebem apoio. Todos têm um papel a cumprir na família e na sociedade. A participação substitui os efeitos do egoísmo e do materialismo, e a devoção ao interesse público não deixa espaço para a inércia. Não se conhecem a desonestidade nem a conivência com a ganância. Não existem vilões, como ladrões e assaltantes. Não é preciso trancar portas, seja dia ou noite. São essas as características de um mundo ideal, o mundo dividido igualmente por todos.

O que disse Confúcio, a primeira vista, é o que todos – a maioria, pelo menos – sonhamos.

Mas os acólitos de Mao, para confundir, deturparam o texto de Confúcio, dando a ele a interpretação que lhes convinham. Diziam, por exemplo, que quando se referia a sociedade perfeita, pretendia mesmo era que as pessoas se comportassem de acordo com certas regras em benefício próprio. Nada mais vago. Mas, ainda assim, interpretação maldosa.

Os críticos argumentavam, ademais, que Confúcio se referia, no texto em comento, prevalentemente, aos homens, esquecendo-se que, segundo a doutrina de Mao, as mulheres eram metade do céu. Mais outra maldade.

Outra crítica: Confúcio, ao falar em ladrões e vilões, não se referia aos governantes, mas aos camponeses e trabalhadores, que mal tinham o que comer e vestir.

Vejam como, com maldade, se pode corromper as idéias das pessoas.

Diante dessa realidade inescapável, sei que, ao escrever – e ao publicar o que escrevo – corro o risco de ser mal interpretado e, quiçá por isso – também – , tenha amealhado tantos desafetos.

Mas não desisto. Sou duro na queda e vou continuar dizendo o que penso, com responsabilidade e com respeito, para não ferir suscetibilidade, para não macular a honra de ninguém.

Numa democracia todos têm o direito de pensa e, se for capaz, de traduzir em palavras o que pensa.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

4 comentários em “O perigo de expor o que pensamos”

  1. Mas, Prof. Zé Luiz, creio eu que é preferível correr o risco de ser mal interpretado, a calar-se por medo desse fato. E você traduz isso com uma competência explêndida. Há tempos escrevi um artigo, acho que no Jornal Estado, não me recordo bem, intitulado “Gosto pelo rebuscado”. O artigo era uma crítica com grande dose de ironia aos adeptos da lingaugem rebuscada, academicista, gongórica. Tem um certo desembargador no nosso Tribunal que adora isso. O que veio de amigos em cima de mim dizer que aquilo era muito duro, não está escrito. Mas, é o risco da escrita.

  2. Há algum tempo leio e aprecio o blog.Ponto de vista corretíssimo. As palavras têm força, mas não estão imunes de distorções e adequações pro que é conveniente.O que ficou registrado no blog é tautológico. A própria Bíblia Cristã, por exemplo, ao longo da história, foi fruto de distorçoes e criações de infindáveis dogmas que hoje se confuguram por aí.

  3. Boa Noite,

    Dr. José Luiz Almeida,

    É com muita satisfação que venho através deste,
    lhe parabenizar por este espaço eletrônico, o qual está
    carregado de informações, principalmente para as pessoas
    ligadas ao Direito. Há algum tempo procurava sites interessantes que além de descontrair tivesse um conteúdo
    relevante.
    Sou estudante de Direito, moro em Guarai-TO, e, ao pesquizar sobre Estinção da Punibilidade (Direito Penal) acabei lendo algumas de suas sentenças neste portal, e, quando fui à página principal me deparei com uma gama de
    informações muito interessante, dai, resolvi expor meus
    agradecimentos por esta oportunidade. Compartilhar um pouquinho do seu universo é de muita valia para aqueles que estão iniciando a jornada agora.

    Parabéns por esta iniciativa exemplar.

    Luiz Carlos Ferreira da Silva
    (Estudante de Direito)

  4. Desde outrora, procuro um site/blog com conteúdo de porte, e, este aparenta oferecer o que vinha buscando. As pessoas (principalmente os Facebookeiros) estão alienados a opiniões, gostos e atitudes da massa. O Homem perdeu o tato sobre si mesmo, e, fazendo uma epítome a uma das críticas sobre as palavras do nobre Sábio Confúcio quanto ao Homem, as pessoas tem que voltar a entender que a Mulher é peça figurante importantíssima na Sociedade mas que o Homem desde o Inicio tem por obrigação desempenhar o seu papel de Autoridade. Os valores estão sendo trocados e a sociedade, principalmente as Famílias estão pagando preços altíssimos por isso.Não é Machismo mas sim uma verdade com base nas próprias escrituras Sagradas, em resumo, são doze APÓSTOLOS e o Sr. Salvador JESUS CRISTO. ESPIRITO SANTO e DEUS também esta no Masculino, isso quebra toda e qualquer opinião ou achismos sobre o tema Machismo.

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