Eu tenho consiciência que não é fácil acreditar em tudo que falo e escrevo. Essa descrença é mais do que natural. As pessoas, na verdade, não acreditam em mais ninguém.
Tenho me surpreendido, a cada dia, com o frisson que decorre, entre os meus conhecidos e parentes distantes – os próximos sabem quem sou, por isso não se excitam – com a possibilidade de minha promoção.
O que mais me surpreende, em tudo isso, é que ninguém parece crer que eu possa ser o que escrevo.
O curioso é que as pessoas se ufanam por mim em face das mordomias, dos cargos à minha disposição e pela visibilidade do cargo de Desembargador, e não pelo que sou, pelo que eu possa representar para o Poder Judiciário, na segunda instância.
Eu vou reiterar , conquanto saiba que poucos acreditarão: o que me apraz, o que me excita, e o que me preocupa no mesmo passo, é saber que contribuição posso dar para, por exemplo, reconquistar a credibilidade do Poder Judiciário. Sim, contribbuição, pois essa reconquista não depende só de uma pessoa.
O que me fascina, creia se quiser, é a possibilidade de discutir, com franqueza, o nosso real papel dentro da sociedade: se de simples instituição chanceladora de algumas gritantes injustiças, se instituição a serviço de um grupo de privilegiados, se órgão com capacidade de responder, a tempo e a hora, as demandas da sociedade, ou reverso, se somos meros instrumentos de dominação, sem compromisso com a sociedade.
Demonstrar, por exemplo, que o poder não deve ser exercido apenas para servir aos amigos e apaniguados, é, para mim, uma obsessão.
Questionar se somos capazes de ajudar a expungir da sociedade os que fazem uso do poder para enriquecer ilicitamente é outra questão que me fascina.
Se somos capazes de ser justos com os nossos próprios colegas, promovendo por merecimento, por exemplo, os que efetivamente mercecem, é outra questão que me aflige e que estou disposto a discutir, com a necessária veemência, na hipótese de ser promovido.
Não me apraz o carro de representação. Ele, definitivamente, não exerce qualquer fascínio sobre minha pessoa. Acho, sinceramente, que é uma mordomia demodé, que precisa ser melhor regulamentada, para ser usufruído ( o carro) apenas na medida de extrema necessidade.
Numa sociedade pobre como a nossa, acho o carro de representação uma afronta; por isso que, para mim, o seu uso deve disciplinado, para coibir os abusos.
Carro de representação, assessores e coisas que tais são, para mim, questões secundárias.
Eu já tive carro e motorista particular – às minhas expensas, claro – e, confesso, me incomodava a situação.
Eu fui juiz auxiliar da Corregedoria e nunca usei o carro oficial sequer para me apanhar em minha casa – a não ser, claro, excepcionalmente.
O que me faz perder o sono, digo com franqueza, não é saber se vou mudar o padrão de vida – o que, afinal, é impossível, com apenas 5% a mais de salário –, em face da promoção. O que perturba a minha mente, a mais não poder, é saber se, sonhador como sou, terei a capacidade de defender as minhas posições – para alguns, radicais –, sem me incompatibilizar com os que pensam de forma diferente.
A imagem que muitos têm de mim não me preocupa.
Sou arrogante e prepotente, como pensam muitos? Pouco importa.
Sou incendiário, como imaginam outros? Que se danem os que pensam assim.
Sou um psicopata, como preferem alguns imbecilóides? Isso é algo que não me apoquenta.
Com o tempo eu vou mostrar que, por ser idealista, não sou, necessariamente, um louco.
Com o tempo vou mostrar que sei ser amigo, cordato, cordial e tolerante, e que tudo o mais que dizem sobre minha pessoa é pura sacanagem.
É preciso tolerar o tolos de cara alegre. É que dizia(Paulo, o apóstolo). E isto é a mais pura verdade. Deixe que digam que falem.
Ítalo Gustavo.
Na verdade, eu acho que você é uma pessoa muito autêntica. Sempre fala o que pensa, de forma clara e sem subterfúgios.
Tenha certeza, os que te conhecem não teem nenhuma dúvida de que contrbuirás e muito, para o engrandeciento do TJ.
Afetuoso abraço do colega Gilberto de Moura Lima.