Sentir-se privado da fama e/ou o poder pode ser algo muito difícil de ser administrado por determinadas pessoas. O poder perdido – ainda que seja um só naco de poder – pode destruir a vida de determinados homens, sobretudo os que sublimam a bajulação, a badalação, as colunas sociais, os tapinhas nas costas, os elogios gratuitos, etc.
Quando Wilson Simonal concluiu, finalmente, que sua vida de artista famoso, rico e badalado não tinha mais retorno, disse desesperado a um amigo: “Eu não existo. Sou um fantasma”. Wanderley Cardoso, “O bom rapaz” da Jovem Guarda, quando se viu sem os holofotes proporcionados pela fama, caiu em depressão e entregou-se ao vício do álcool.
Esses dois exemplos, apanhados ao acaso, são uma demonstração eloquente de como determinadas pessoas não estão preparadas para o ostracismo, para viver sem a fama – e sem o poder dela decorrente – que um dia alcançaram.
Essas pessoas, ao tempo da fama, não se preparam para o ocaso. Viveram intensamente o poder e a fama, esquecidos que, como tudo na vida, eles também passam.
Sabem-se de pessoas, com muito menos poder e quase nenhuma fama, que ao perderem aquele ( o poder) , se desesperam, se deprimem, perdem, até, a vontade de viver.
Essas pessoas, a meu sentir, são as que exercem o poder sem idealismo, mas em face do que ele tem fascinante. Essas têm que sofrer mesmo, pois o poder, para elas, era um fim em si mesmo. Elas se lambuzam com – e no – o poder. Vivem das benemerências do poder, sem se darem conta que tudo na vida tem começo, meio e fim. São os tolos no poder, dos quais lhes falei em outra crônica publicada aqui mesmo neste blog.
Eu não tenho nenhum problema em me afastar do poder. Não tenho apego ao poder. Incrível, não é mesmo? Mas é a mais cristalina verdade. Aliás, cinco meses depois de ser promovido, ainda não entendi o fascínio das pessoas pelo cargo de desembargador. A minha vida permanece rigorosamente a mesma. Com a minha família não é diferente. A minha rotina é a mesma. Continuo dormindo no mesmo horário, fazendo as refeições na hora marcada, frequentando os mesmo ambientes, trocando prosa com os mesmos amigos e parentes. Não vivo de badalações, não frequento as colunas sociais, não vivo de ostentação, e só tenho orgulho da minha família, da história que construí na magistratura e das poucas amizades que amealhei e que preservo. Nada mais que isso. Nada além disso.
Portanto, para mim, deixar o poder, não será nenhum dilema. Tenho direito adquirido a aposentadoria e, tão logo compreenda que minha missão está cumprida, volto para casa.
Decerto que poucos serão os que se darão conta da minha saída de cena. Poucos são os que sabem que eu existo. Não gosto de ambientes festivos, não sei viver em ambientes badalados, não empresto a minha imagem para fins que não estejam umbilicalmente ligados à minha condição de magistrado. Portanto, sair da ribalta, para mim, será menos doloroso do que foi a minha promoção para o Tribunal.
É bom saber que, diferente de uma promoção, sair da ribalta só depende mim e de mais ninguém.
Apresso-me em dizer, a guisa de alerta, que a minha missão, em segunda instância, mal começou e que, portanto, não se deve contar com a minha aposentadoria nos próximos anos.
Muito bom, parabéns pelo artigo.
É verdade, para alguns, o ostracismo pela falta do poder revela-se uma perda hercúlia. Que pena, pois o verdadeiro poder está em saber viver ao lado dele. Grande Abraço!!!!
A vida fere e ensina.
Alguns aprendem, outros enlouquecidos, desprezam.
Desde que não venham cobrar meus ombros, que passem.
Imagine o senhor então, como é ser uma pessoa de pouca projeção social – mas, que termo mais babaca e medieval – e, não obstante, AMAR TRABALHAR NOS BASTIDORES…
Este ofício é para aqueles que assistem a tudo e a todos; geralmente ensinam muitas coisas para muitos, e, raramente são chamados aos louros.
Isso é bom demais! Isto é vida íntima! Isto é viver a própria vida na sua significância. Independente de retorno, desprezando a soberba.
Eu me atrevo a chamar de Ostracismo aos Ostracistas.
É isso aí.
Excelência,
Sou advogado e moro em Fortaleza.
Procurando algo para uma defesa sobre o crime de posse irregular de arma, me deparei com uma sentença proferida pelo Ilustre Magistrado.
Após ler a sentença, algo me levou a navegar no seu blog, não sei se por curiosidade ou pela admiração causada na sentença de absolvição do acusado. Talvez eu estivesse tentando entender um pouco do ser humano que julga. Que se aproxima de DEus quando julga um semelhante.
Após ler “Eu não existo. Sou um fantasma.” Me deparei com um magistrado não apenas culto de conhecimentos prontos e absorvidos por tempos de leitura. Mas de um ser humano de extrema sensibilidade e que se posiciona de maneira coerente nas grandes indagações sobre a existência humana e suas vaidades.
Posso lhe deixar mil elogios nessa mensagem. Mas não sou bajulador e não venero pessoas. Sou admirador de pessoas idealistas como V.Exa. Seus ideiais e sentimentos rompem a barreira do tempo e do futuro.
Parabéns pela simplicidade e humildade que ficam nas entrelinhas de seus textos.
“Que o poder seja exercido sempre com coerência, humildade e inteligência.”
Na minha vida jurídica, vejo muitos servidores que não merecem a palavra “servidor” e nem tampouco “público”. A advocacia está virando um mercado de vaidades com poucas discussões jurídicas. Onde alguns magistrados estão afim de participarem de um verdadeiro BBB. Onde a mediocridade e vaidade tomam conta do poder instituído à pessoas que não têm o dom de “servir” os seus conhecimentos em prol das “coisas públicas”.
Desculpe relatar um pouco da minha indignação. Mas o mal só prevalecerá enquanto o bem permanecer em silêncio.
Se V.Exa., estiver no twitter terei o prazer de segui-lo para compartilhar ainda mais de seus ideiais.
Mais uma vez,
Parabéns!
Cordialmente,
Gaudenio Santiago