A ilusão dos tolos

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Só um tolo se ilude com o poder. O que se vive e vivencia no poder é absolutamente efêmero. Tudo passa com uma rapidez de impressionar.

A verdade é que, depois do exercício do poder, vêm, necessariamente, o ostracismo, o andar sozinho, a solidão, a tristeza, enfim ( para os que não se preparam para essa realidade), ante a constatação de que os “amigos” de ocasião, de conveniência, debandaram, foram cantar em outra freguesia; quiçá, já podem estar, convenientemente, exercendo a sabujice em torno de outras figuras circunstancialmente poderosas.

Dirão: É a vida! Direi: É a vida, sim!

Pena que muitos não se dão conta de que a vaidade e a prepotência, no exercício do poder, lhes remetarão, mais intensamente, mais rapidamente, enfim, à solidão, quando desse mesmo poder forem apeados- pelo tempo ou pelas circunstâncias.

Dirão: Fora do poder não há salvação! Direi: Fora do poder há, sim, salvação!

Mas salvação só haverá, se, ao invés do poder, sublimares, valorizares, enalteceres, sem enleio, a família e os verdadeiros amigos, que são aqueles que não estão ao teu lado em razão do cargo que eventualmente exerças.

Quem tem família e amigos verdadeiros, nunca estará – nem se sentirá – sozinho; não sofrerá em face do poder que já não tem.

Ontem, por acaso, recebi a visita de um colega, que veio me dar as boas vindas pelo meu retorno ao trabalho, depois do acidente que sofri.

Conversa vai, conversa vem, chegamos à lembrança dos nossos colegas que passaram pelo poder.

Nessas reminiscências, disse ao colega que, no domingo próximo passado, num determinado restaurante da cidade, vi um colega aposentado, já muito idoso e, até, com dificuldades para se locomover.

Diante dessa minha informação, o colega, estupefato, indagou:

– Fulano ainda está vivo?

Seguimos adiante,cuidando, ainda, de recordações.

Num determinado momento, ele disse para mim:

– Sabes quem está muito doente?

Ele mesmo, sem que eu respondesse, disse:

– Fulano de tal.

Fiquei chocado – e triste. Confesso que não sabia do delicado estado de saúde desse ilustrado colega.

Na mesma hora acertamos uma visita para a próxima segunda-feira.

Esses dois exemplos demonstram, com eloquência, o que seremos, depois do exercício do poder: pessoas esquecidas. Nada mais que isso. Quando muito, no caso específico do Tribunal de Justiça, pessoas que não representam mais que um retrato na parede, se tiverem exercido algum cargo de direção.

Como abdiquei, de logo, de qualquer cargo de direção ( a menos que fosse escolhido por consenso, para não dividir mais ainda o Tribunal, o que, é bem de ver-se, jamais ocorrerá), está claro que, no meu caso, nem mesmo o retrato na parede existirá, para que se lembrem de mim.

Essas reflexões me levam, mais uma vez, a uma óbvia conclusão: é preciso sublimar a família e os amigos verdadeiros, pois que somente por eles jamais seremos esquecidos, tendo em vista que por eles – amigos e família – não somos gostados – e, até, amados – pelo estar, mas pelo ser.

É muito provável que esses dois colegas a que me referi, que foram esquecidos em face do poder que exerceram, tenham, nos dias atuais, apenas o conforto do lar e a atenção dos amigos verdadeiros, que é, de rigor, o quanto basta.

Tenho dito, nessa linha de pensar, que os que se embriagaram com o poder , que não se preparam para o porvir, e que não foram capazes de preservar as amizades verdadeiras, viverão, até os dias finais, uma amarga solidão, exatamente quando mais precisam do conforto e de assistência.

É assim mesmo, sem tirar nem pôr. Triste dos que não vislumbram esse porvir.

Essas reflexões me fazem lembrar, outra vez, de Sébastian Roch Nicolas Chamfort, que viveu no século XIX e que foi um dos mais brilhantes satíricos de sua época.

As máximas de Sébastian, publicadas depois da sua morte, revelaram-no um mestre do aforismo e um crítico voraz e impiedoso.

Nicolas Chamfort tinha intensa aversão aos tolos, sobre os quais definia, depois de indagar:

– O que é um tolo?

Para, impiedosamente, responder:

– Alguém que confunde seu cargo com sua pessoa, seu status com seu talento e sua posição com uma virtude.

Depois, diagnosticava, com a mesma acidez:

– Um tolo, ansiando com orgulho por alguma condecoração, parece-me inferior a esse homem ridículo que, para se estimular, fazia com que suas amantes pusessem penas de pavão em seu traseiro.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

3 comentários em “A ilusão dos tolos”

  1. Caro Desembargador José Luiz ,
    É a mais pura verdade:
    “Mas salvação só haverá, se, ao invés do poder, sublimares, valorizares, enalteceres, sem enleio, a família e os verdadeiros amigos, que são aqueles que não estão ao teu lado em razão do cargo que eventualmente exerças. Quem tem família e amigos verdadeiros, nunca estará – nem se sentirá – sozinho; não sofrerá em face do poder que já não tem”.
    Parabéns por mais um belo texto, cujo teor já tive a honra de registrar no meu site.
    Um forte abraço,
    Eduardo

  2. Boa noite,

    A solidão é uma conqista diária.Quem é solidário nunca será solitário.

    Este seu texto faz-me lembrar uma frase que li ontem de Adam Smith.

    A ambição universal dos homens é viver colhendo o que nunca plantaram. (Adam Smith)

    obrigada.

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