Desvendando os mistérios da toga

SEJA MAIS UM DOADOR DE MEDULA ÓSSEA. ABRACE ESSA CAUSA.

A doação da medula é simples, sem dor e a medula se regenera em duas semanas

____________________________________________

Tenho refletido – e tenho registrado, em crônicas, o resultado dessas reflexões – acerca dos mistérios que envolvem os homens togados. Foi por isso que, inquieto, escrevi a crônica OS MISTÉRIOS DA TOGA, de grande repercussão.

Causa-me inquietação a mudança que se opera em de terminados julgadores, quando colocam a toga sobre os ombros.

Eu não consigo compreender, sinceramente, por que determinadas pessoas, que convivem com os demais congêneres – no dia a dia, nas reuniões sociais, nos bate-papos informais – com fidalguia e afabilidade, transmudam-se, de forma supreende, quando adentram numa sala de julgamento.

Essas reflexões, essa minha inquietação em face desses transtornos da personalidade, e a busca de respostas para essas mudanças bruscas de comportamento, me levaram aos meus primeiros anos como magistrado, na Comarca de Presidente Dutra.

Lá chegando, nos idos de 1986, pude constatar, ainda com a personalidade em formação, a importância que o povo dava ( e dá) a um magistrado. Não raro eu ouvia as pessoas se dirigirem a mim e dizerem, quase em uníssono, que eu era a autoridade máxima do município.

É claro que ser colocado na condição de autoridade máxima de um município mexeu com a minha vaidade. E mexe, sim, com a vaidade de todos, máxime se se tratar de um tolo.

Diante de tantos obséquios, de tanta sabujice, de tantas lisonjas, de tantas honrarias, não há quem resista.

A vaidade, essa é a verdade, vai impregnando, contaminando a alma.

Da vaidade para a arrogância e a prepoetência é um passo.

Nessa condição, de autoridade máxima do município, eu também fui arrogante e prepotente. Cometi erros, em face do poder, que não cometeria nos dias atuais.

Deixei-me levar, como muitos, pela vaidade e, algumas vezes, me excedi, sem, no entanto, cometer nenhum ignomínia no exercício do cargo.

Mas, com poucos dias, dei-me conta de que a toga pesava sobre os meus ombros e me fazia uma pessoa diferente do que sou.

Diante dessa constatação, procurei mudar – e mudei! Mudei muito! – , conquanto tenha permanecido, como sou até hoje, intenso, visceral, quase intransigente, na defesa dos meus pontos de vistas, sem, no entanto, ser radical, inconsequente ou obtuso.

Não deixo, como deixei no passado, que a toga mude a minha personalidade, conquanto, repito, exerça o poder intensamente.

Só os tolos, os babacas não mudam.

Eis alguns dos mistérios da toga que só agora revelo.

É por isso que, na crônica intitulada EU (NÃO) FARIA TUDO OUTRA VEZ, tive a oportunidade de dizer:

“[…]” Confesso que quando ouço alguém dizer que faria tudo outra vez ou que não se arrepende de nada que fez, fico achando que nasci, cresci – e vivo – num mundo muito, muito diferente e que, dos homens, estou entre os mais falíveis, entre os que mais erram, os que mais tropeçam, pois muitas das minhas ações do passado, muitas coisas que fiz eu não faria outra vez – nem sob tortura.

Para mim – cá com os meus botões, cá com as minhas imperfeições, com a minha assumida falibilidade – é uma arrogância, uma prepotência sem par, concluir que, diante da mesma situação – ou se pudesse voltar no tempo – , faria tudo exatamente como fizera antes, ainda que tenha tropeçado, que tenha sucumbido, que tenha dado com a cara na parede. Quem pensa e age assim se imagina muito próximo da perfeição, da infalibilidade. Não passa, todavia, de um tolo, de um bem acabado imbecil, pois que, tendo a oportunidade de aprender, não o fez, preferindo, ao reverso, continuar trilhando pelo mesmo caminho, navegando nas mesmas águas turvas nas quais soçobrou.

Diferente dos que pensam – e agem – assim, eu já me arrependi, incontáveis vezes, de muitas coisas que fiz e, até, das que deixei de fazer. Confesso, com humildade, que não faria tudo outra vez. Admito, hoje, mais maduro, ter cometido muitos erros que não cometeria com a experiência que acumulei ao longo dos anos.

Como eu gostaria de poder voltar no tempo para não ter que cometer os mesmos erros! Se a mim me fossem dadas as mesmas oportunidades que tive e que perdi, trilharia noutra direção, noutro rumo, noutro sentido.

Se a mim me fosse permitido voltar no tempo, eu jamais, sob quaisquer circunstâncias, postularia, uma promoção por merecimento, como fiz no passado – sem pensar nas conseqüências. Esse foi o maior erro que cometi na minha vida profissional – e pessoal, pois não posso dissociar, nessas circunstâncias, o pessoal do profissional.

Se eu pudesse voltar no tempo moldaria a minha personalidade para, jamais, sob qualquer pretexto, abrir mão das horas de lazer que me furtei – e, incorrigível, me furto, até hoje – para trabalhar. O ser humano não tem o direito de se auto-impor um jornada tríplice de trabalho.

Se eu pudesse voltar no tempo, me faria concessões, seria menos rigoroso comigo mesmo. É preciso saber se fazer concessões. E isso eu, aos cinqüenta e quatro anos, ainda não aprendi; continuo me imolando com trabalho, me imolando nas minhas empedernidas convicções. E como tenho padecido por causa delas.

Se pudesse voltar no tempo para traçar o meu rumo, a minha vereda, o meu norte, o caminho a seguir, jamais confiaria nalgumas pessoas que confiei e que – hoje sei que era inevitável – me traíram.

Se eu pudesse voltar no tempo, seria mais tolerante com quem não cumpre horário. Eu sempre desprezei – e ainda desprezo – o profissional que não cumpre horário. Muito da minha fama de arrogante decorre dessa minha intolerância com o profissional que descuida do hora aprazada, que não honra a palavra assumida, que não se esmera no trabalho.

Se pudesse voltar no tempo, seria responsável na medida certa, investiria mais em mim e menos no trabalho.

Se eu pudesse fazer retroceder o tempo, eu jamais teria me envolvido emocionalmente com algumas pessoas que, só depois, me dei conta de que não mereciam de mim nada mais que desprezo.

Se pudesse voltar no tempo, eu veria um pouco mais o por do sol, teria chegado um pouco mais cedo – espiritualmente – em casa.

Se eu pudesse voltar no tempo, eu não sairia mais, como o fiz tolamente no passado, prendendo que fazia boca de urna.

Com eu fui idiota! Com eu fui tolo! Hoje sei que tudo foi embalde! Nenhum cabo eleitoral recebeu qualquer reprimenda e nenhum candidato teve a candidatura impugnada.

Eles, certamente, devem ter rido de minha ingenuidade.

Se eu pudesse voltar no tempo, não passaria mais noites insones – como ainda passo – tentando combater a criminalidade miúda, enquanto que os colarinhos engomados seguem saqueando os cofres públicos.

Se eu pudesse voltar no tempo, eu jamais me afastaria de algumas pessoas que amo e das quais me afastei por causa do trabalho.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

3 comentários em “Desvendando os mistérios da toga”

  1. O candidato a Deputado Estadual Bruno Covas criou um movimento para criar um cadastro de doadores de medula óssea. Bruno Covas criou esse movimento dentro da Assembléia, onde se encontra a equipe do Hospital do Câncer de Barretos, com apoio da Ordem DeMolay para incrementar a campanha, colhendo sangue e preenchendo os dados para integrar o Registro de Doadores de Medula (Redome) e fez questão de visitar as cidades de Capivari, Elias Fausto e Rafard, que cadastraram mais de 4.000 pessoas como potenciais doadores de medula óssea.
    Para quem quiser saber mais:

    http://bit.ly/biBAEg

  2. Excelência,

    bom dia!

    A maioria dos magistrados poderiam ler esse texto para uma possível reflexão, Parabéns ao Senhor por saber diferenciar a sua pessoa da toga, é um grande diferencial este ato.

    Aproveitando o ensejo, vou enviar aos seus cuidados um pequeno livro que possui passagens acerca do assunto abordado acima.

    Grande Abraço,
    Fernanda Martins

  3. transcrevendo Erasmo de Rotterdam (Elogio da Loucura, página 22,Editora Martin Claret-2001:

    “…OS ESTÓICOS NÃO DESPREZAM A VOLÚPIA,EMBORA ESPERTAMENTE SE FINJAM ALHEIOS A ELA E A ULTRAJEM COM MIL INJÚRIAS DIANTE DO POVO, A FIM DE QUE, AMEDRONTANDO OS OUTROS, POSSAM GOZÁ-LA MAIS FREQUENTEMENTE…”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.