É claro que em face da minha formação, dos meus valores culturais e morais, não desejo a morte de ninguém.
Não desejo, da mesma forma, que ninguém seja infeliz.
A infelicidade do ser humano, sobretudo dos que estão mais próximos de mim, também me torna infeliz – às vezes até com maior intensidade.
Por mim, pela minha vontade, todos seriam felizes como eu sou.
Pena que isso não seja possível.
A infelicidade, é de rigor que se reconheça, permeia a vida do ser humano.
E tem que ser assim. Não há como ser diferente.
É por isso que o poeta popular ensina, com sabedoria, que felicidade não existe ; o que existem são momentos felizes.
Sendo – ou estando – feliz, nada me impede de seguir refletindo acerca de temas inquietantes. Daqueles que possam conduzir à equivocada conclusão de que eu não seja esse ser feliz que suponho ser.
Pouco importa a imprenssão que tenham de mim, se a minha condição de ser racional me conduz a esses caminhos.
Assim sendo – e pensando – , vou prosseguir refletindo, ainda que de tais reflexões resultem mais inquietações – moral e intelectual, tanto faz.
Pois bem. Pensando sobre o tempo de permanência do homem na terra, fico me perguntando por que há pessoas que só fazem o mal e são tão longevas, e por que, da mesma forma, pessoas tão boas são retiradas tão precocemente do nosso convívio.
Claro que isso não é uma regra.
Mas é claro que isso intriga.
Claro que há pessoas boníssimas que alcançam grande longevidade.
Mas é claro, também, que não estou obrigado a me guiar pela regra geral ou pela exceção, pois o que mais importa mesmo é dar vazão ao meu pensamento, às minhas conhecidas inquietações.
O que importa mesmo para essas reflexões é questionar por que tanta gente má vive tanto. Nada mais que isso!
Claro que ninguém tem resposta para essa indagação.
Mas ela, às vezes, inquieta, sim.
Claro, também, que se a resposta para essa indagação for buscada nos livros sagrados, na fé de cada um, a explicação é mais do que óbvia.
Mas eu não estou em busca do óbvio. Eu queria mesmo era refletir como se reflete no mundo profano, numa sociedade laica.
Por isso, volto à indagação:
Por que tanta gente ruim vive tanto?
Não seria mais justo se o seu encontro com Deus, para prestar contas do malfeito, fosse abreviado?
Entendo sua inquietação. Não sei também o porquê.
Mas me lembrou desta música:
Os Bons Morrem Jovens (Legião Urbana)
É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora
Cedo demais
Quando eu lhe dizia
Me apaixono todo dia
É sempre a pessoa errada
Você sorriu e disse
Eu gosto de você também
Só que você foi embora…
Cedo demais!
Eu continuo aqui
Meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você
Em dias assim
Dia de chuva
Dia de sol
E o que sinto não sei dizer…
Vai com os anjos
Vai em paz
Era assim todo dia de tarde
A descoberta da amizade
Até a próxima vez…
É tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você
E de tanta gente que se foi
Cedo demais!
E cedo demais…
Eu aprendi a ter
Tudo o que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu que tive um começo feliz…
Do resto não sei dizer
Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre mais eu sei
Que você está bem agora
Só que neste mundo
O verão acabou.
Cedo demais!