Inquietação

É claro que em face da minha formação, dos meus valores culturais e morais, não desejo a morte de ninguém.

Não desejo, da mesma forma, que ninguém seja infeliz.

A infelicidade do ser humano, sobretudo dos que estão mais próximos de mim, também me torna infeliz – às vezes até com maior intensidade.

Por mim, pela minha vontade, todos seriam felizes como eu sou.

Pena que isso não seja possível.

A infelicidade, é de rigor que se reconheça, permeia a vida do ser humano.

E tem que ser assim. Não há como ser diferente.

É por isso que o poeta popular ensina, com sabedoria, que felicidade não existe ; o que existem são momentos felizes.

Sendo – ou estando – feliz, nada me impede de seguir refletindo acerca de temas inquietantes. Daqueles que possam conduzir à equivocada conclusão de que eu não seja esse ser feliz que suponho ser.

Pouco importa a imprenssão que tenham de mim, se a minha condição de ser racional me conduz a esses caminhos.

Assim sendo – e pensando – , vou prosseguir refletindo, ainda que de tais reflexões resultem mais inquietações – moral e intelectual, tanto faz.

Pois bem. Pensando sobre o tempo de permanência do homem na terra, fico me perguntando por que há pessoas que só fazem o mal e são tão longevas, e por que, da mesma forma, pessoas tão boas são retiradas tão precocemente do nosso convívio.

Claro que isso não é uma regra.

Mas é claro que isso intriga.

Claro que há pessoas boníssimas que alcançam grande longevidade.

Mas é claro, também, que não estou obrigado a me guiar pela regra geral ou pela exceção, pois o que mais importa mesmo é dar vazão ao meu pensamento, às minhas conhecidas inquietações.

O que importa mesmo para essas reflexões é questionar por que tanta gente má vive tanto. Nada mais que isso!

Claro que ninguém tem resposta para essa indagação.

Mas ela, às vezes, inquieta, sim.

Claro, também, que se a resposta para essa indagação for buscada nos livros sagrados, na fé de cada um, a explicação é mais do que óbvia.

Mas eu não estou em busca do óbvio. Eu queria mesmo era refletir como se reflete no mundo profano, numa sociedade laica.

Por isso, volto à indagação:

Por que tanta gente ruim vive tanto?

Não seria mais justo se o seu encontro com Deus, para prestar contas do malfeito, fosse abreviado?

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Um comentário em “Inquietação”

  1. Entendo sua inquietação. Não sei também o porquê.
    Mas me lembrou desta música:

    Os Bons Morrem Jovens (Legião Urbana)

    É tão estranho
    Os bons morrem jovens
    Assim parece ser
    Quando me lembro de você
    Que acabou indo embora
    Cedo demais

    Quando eu lhe dizia
    Me apaixono todo dia
    É sempre a pessoa errada
    Você sorriu e disse
    Eu gosto de você também
    Só que você foi embora…
    Cedo demais!

    Eu continuo aqui
    Meu trabalho e meus amigos
    E me lembro de você
    Em dias assim
    Dia de chuva
    Dia de sol
    E o que sinto não sei dizer…

    Vai com os anjos
    Vai em paz
    Era assim todo dia de tarde
    A descoberta da amizade
    Até a próxima vez…

    É tão estranho
    Os bons morrem antes
    Me lembro de você
    E de tanta gente que se foi
    Cedo demais!
    E cedo demais…

    Eu aprendi a ter
    Tudo o que sempre quis
    Só não aprendi a perder
    E eu que tive um começo feliz…
    Do resto não sei dizer

    Lembro das tardes que passamos juntos
    Não é sempre mais eu sei
    Que você está bem agora
    Só que neste mundo
    O verão acabou.

    Cedo demais!

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