O que não quero para mim não desejo para ninguém. Verdade?

Superado um desafio ou vencida uma dificuldade, costuma-se dizer:” que passei não desejo ao meu  maior inimigo”  ou ” o que não quero para mim, não desejo pra ninguém”. Verdade absoluta? Não! Claro que não! Há exemplos vários a demonstrar que, muitas vezes,  essas afirmações são  apenas força de expressão.

Mas há, sim, os que, tendo passado por uma dificuldade,  fazem de  tudo para que o semelhante não tenha que enfrentar os mesmos desafios. Eu, por exemplo, tendo  enfrentado sérias dificuldades em face da ausência do meu pai, procurei sempre me fazer presente na vida dos meus filhos. Acho que, em face do que sofri, eu até exagero. Mas, tudo bem! Os meus exageros são plenamente justificados pelo amor intenso e incondicional que lhes dedico.

Noutro giro,  não se há de negar, há pessoas que,  apesar das dificuldades passadas, são capazes de infligir aos semelhantes as mesmas  penas, os mesmos castigos, sem que se saiba ao certo a título de que preferem repetir o erro que condenaram, ao invés de seguir em outra direção.

Por volta de 1830, o escravo José Francisco dos Santos,  depois de anos de trabalho forçado, viu-se livre da escravidão. Conseguiu a sua carta de alforria, comprando-a ou ganhando de algum amigo rico.

José Francisco dos Santos, o “Ze Alfaiate”, apelido que ganhou porque cortava e costurava tecidos,  foi trazido da África para o Brasil,  amarrado, em um navio imundo, na mais tenra idade.

Depois de alcançar a sua liberdade, o que fez “Ze Alfaiate”?  Lutou contra a escravidão? Condenou os que lhes infligiram intensos castigos?  Não. José Francisco, ao invés, voltou à África e tornou-se, ele próprio,traficante de escravos.  Casou-se depois com uma das filhas de Francisco Félix de Souza, o maior vendedor de gente da África atlântica, e passou a mandar ouro, negros e azeite de dendê  para vários portos da América e da Europa.

Difícil entender?  Acho que não. Do ser humano pode-se esperar qualquer coisa. Infelizmente!

 

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Um comentário em “O que não quero para mim não desejo para ninguém. Verdade?”

  1. Ills.Sr.Jose Luiz
    Essa reação q o sr. conta de “Zé Alfaiate” é mais ou menos o q acontece em nosso pais, pessoas q foram condenadas em epocas passadas,por algum motivo politico passaram por privações dificuldades humilhação,hoje no poder do comando de nosso querido “BRASIL” devolvem com a mesma moeda ao sofrido povo q na esperança de uma melhora colocaram essa pessoas no comando de nosso pais.
    Mas uma certeza eu tenho q eles naõ escaparam do juizo final, pagando seus debitos com muito juros.
    Como o sr.escreveu (Do ser humano pode-se esperar qualquer coisa.Infelizmente.

    Um grande abraço de um brasileiro sem esperança de um pais melhor.
    J.C.Messias

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