Vaidade, câncer da alma. Releitura.

Na crônica que publico a seguir, refleti acerca da vaidade do ser humano e do que ele é capaz de fazer em face dessa vaidade.

Em determinado fragmento consignei, verbis:

  1. A ambição pelo poder e a aquisição de bens materiais podem ser uma forma de compensar um sentimento de vazio. Esse impulso para o poder, essa necessidade de querer ter mais, pode ainda ser conseqüência do sentimento de inferioridade e da sensação de desamparo, fragilidade e impotência, presentes em muitos de nós.Esse sentimento é mais intenso naqueles que, nos primeiros anos de vida, não encontraram junto aos adultos com quem conviveram, o conforto, o acolhimento e o amor que amenizassem esse desamparo.

A seguir, o artigo, por inteiro.

Vou iniciar essas reflexões com uma historinha.Havia um rei que procurava bons pintores para decorar seu palácio. Duas equipes – uma grega e uma chinesa – se candidataram para realizar o trabalho. Como teste, o rei pediu que cada uma decorasse uma parede de uma das salas do palácio. Para que um grupo não visse o trabalho do outro, escolheu paredes opostas e colocou uma cortina no meio.Os chineses pintaram sua parede com o maior cuidado, enquanto os gregos apenas poliram sem parar a superfície da outra. Finalmente o rei resolveu ver o resultado e mandou remover a cortina.De um lado viu a bela pintura chinesa. Na outra parede, que havia sido polida até transformar-se num espelho, o rei também viu a bela pintura chinesa, mas com sua própria imagem refletida no meio.”Este é melhor”, disse o rei. E os gregos conseguiram o emprego.

Essa história nos ensina que há pessoas, que, como o rei só olham em volta de si e só vêem a sua própria imagem refletida. Essas pessoas padecem de um mal chamado vaidade ou soberba.Essa pessoas, de tão vaidosas não percebem que o orgulho e a vaidade são uma chaga que derrota as relações pessoais. O vaidoso, inicialmente, transita com facilidade entre os grupos de pessoas, entre os seus colegas de trabalho, mas, aos poucos, destroe o convívio em face de sua vaidade, de sua soberba, sentimentos daninhos e deletérios.

Ao lado das misérias materiais, há outras de maior gravidade, que são as misérias morais. A vaidade é uma delas. Mistura-se a todas as ações humanas e mancha os pensamentos. Penetra no coração e no cérebro.
A vaidade, como uma erva daninha, aniquilada as relações com seu veneno. O homem excessivamente vaidoso esquece de Deus, a Ele só recorrendo nos momentos de extrema aflição.
A vaidade por si só se já constitui em obstáculo ao progresso moral dos homens. Se está de mãos com o poder, torna-se nefasta.
A pessoa a soberba atribui apenas a si próprio o que possui. O vaidoso, de regra, tem ambição desmedida. É hipócrita, gosta de ostentar, é presunçoso, arrogante e altivo. Tudo isso em medida extrema. O vaidoso tem orgulho excessivo e conceito elevado ou exagerado de si próprio.A pessoa vaidosa tem orgulho excessivo.
No campo profissional o vaidoso diz para si mesmo: “eu sou melhor que os outros”, muito embora não o seja.
O vaidoso tem uma imagem de si inflada, aumentada, nem sempre correspondendo à realidade. Surge com isso a necessidade de aparecer, de ser visto, passando inclusive por cima de padrões éticos e vendo os outros colaboradores ou colegas minimizados.
Geralmente, pessoas com essas características ocupam cargos elevados e utilizam seu poder para impor suas vontades, manipulando as pessoas ao seu redor com o intuito de conseguirem que tudo seja feito conforme seus desejos.
A pessoa com essa característica e por sua necessidade de destaque dentro de uma corporação, despreza as idéias e decisões da equipe, não reconhecendo a capacidade desta. Toma as decisões, muitas vezes sozinho e, na hora de reconhecer o fracasso, diz que a decisão foi em equipe e no sucesso diz que a idéia foi dele. Típico de pessoas que querem ter sempre o destaque nos grandes projetos.
Quem é acometido pela soberba, em nome do poder, quase sempre sacrifica sua tranqüilidade, a convivência com a família, uma relação afetiva saudável, a própria saúde, tudo para conquistar ou manter uma posição de destaque, não importando o preço a ser pago – em geral, muito caro.
A pessoa orgulhosa por não suportar a dependência, menospreza os sentimentos das pessoas, se colocando sempre como um ser superior, como se estivesse num pedestal difícil de ser alcançado. Com isso, a vaidade acaba acarretando muitos conflitos nas relações pessoais, afetivas, familiaresO vaidoso tem necessidade de fazer com que o outro se sinta diminuído para que ele se sinta superior.O conceito exagerado de si próprio, o amor-próprio demasiado, a necessidade de poder, são apenas máscaras que buscam compensar a falta de amor que sente por si mesmo, pois possui em geral uma necessidade de auto-afirmação.
O orgulho está diretamente relacionado com a falta de amor-próprio.
A ambição pelo poder e a aquisição de bens materiais podem ser uma forma de compensar um sentimento de vazio. Esse impulso para o poder, essa necessidade de querer ter mais, pode ainda ser conseqüência do sentimento de inferioridade e da sensação de desamparo, fragilidade e impotência, presentes em muitos de nós.Esse sentimento é mais intenso naqueles que, nos primeiros anos de vida, não encontraram junto aos adultos com quem conviveram, o conforto, o acolhimento e o amor que amenizassem esse desamparo.
O que explica o fato da necessidade de poder ser vital para algumas pessoas e de menor significado para outras.
A vaidade está muito distante da humildade, característica básica de quem possui algum autoconhecimento.
É lamentável que algumas pessoas só percebam que a vaidosa é um sentimento deletério no final de suas vidas, muitas vezes num leito de hospital, quando muito pouco podem fazer para reconstruírem o que destruíram – nos outros e, principalmente, em si mesmas.A inveja destrói o vaidoso e amarga a sua vida. Ele tende a se isolar, ficar sozinho. Até a mulher e os próprios filhos um dia lhe virarão as costas.Tenho muita pena do vaidoso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Um comentário em “Vaidade, câncer da alma. Releitura.”

  1. Muito bom seu artigo. Li e indiquei a outros.
    Minha crítica é para os erros de digitação que poderiam ter sido corrigidos.
    Graziella

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