A sociedade clama por uma limpeza ética na política. Eu também clamo. Todos clamamos. Essa questão é quase obsessão para mim, que estou sempre indignado com as travessuras dos nossos representantes.
Paradoxalmente, essa mesma sociedade elege os que têm ficha suja, com votação expressiva, para, depois, se indignar com a decisão do Supremo Tribunal Federal acerca da aplicação da Lei da Ficha Limpa.
Argumentar-se-á, para justificar a falta de discernimento de parte relevante do eleitorado, que os espertalhões tiram proveito da ignorância do povo ou que o eleitor não tem capacidade de discernimento, em face de sua pouca educação.
Desse entendimento, no entanto, não comungo. Ou melhor, comungo apenas parcialmente.
É que notórios “fichas sujas”, com os rostos estampados nos veículos de comunicação de todo o país, alguns deles até algemados, receberam votação mais do que generosa do eleitor do seu Estado ( ou curral eleitoral?), num claríssima demonstração de que, de rigor, o eleitor não quer defenestrar da vida pública os que entende não merecer a sua confiança, preferindo, ao reverso, que a limpeza se faça por meio de uma lei ou por intermédio de um Tribunal, o que, convenhamos, é muito estranho.
Um país educado e politizado não precisa de uma lei para tirar da vida pública quem não é digno da confiança do eleitor.
O voto, desde meu olhar, é a mais importante forma de expressão da vontade popular. Mais do que uma lei e do que uma decisão judicial.
É lamentável que, tendo às mãos um instrumento de tamanha relevância para expurgar da vida pública os indignos dela, o eleitor prefira transferir a responsabildade para um Tribunal, cujos membros sequer são eleitos pelo voto popular.
Nós ainda vamos chegar lá!