Um dos problemas que mais me afligiram ao tempo em que judicava no primeiro grau era a não apresentação de réus presos à instrução criminal.
A verdade é que, conquanto fossem requisitados os acusados com a máxima antecedência, eles, de regra, não eram apresentados, disso resultando que, por incontáveis vezes, tive que adiar audiências, com evidente prejuízo para conclusão da instrução.
Na vã tentativa de realizar as instruções, eu e minha equipe já mantínhamos contatos com as Centrais de Custódia já no dia anterior, lembrando-os da audiência.
As razões para a não apresentação dos acusados requisitados eram sempre as mesmas: falta de condições materiais, mais precisamente falta de transportes, o que, rigorosamente, era verdadeiro.
Para viabilizar a realização das audiências, os delegados de polícia, muitas vezes, numa deferência especial a minha pessoa, mandavam os presos nos seus próprios veículos, porque sabiam da minha obstinação em realizar o ato.
A despeito da boa vontade de muitos, o certo é que, não raro, não se realizavam as audiências, em face da não apresentação dos acusados presos.
Foram anos e anos – mais de 20 – de luta nesse sentido.
Concluir uma instrução era uma atividade tormentosa, bem se pode ver.
No caso específico da 7ª Vara Criminal, da qual eu era titular, o tormento se multiplicava porque eu fazia – ou, pelo menos, tentava fazer – audiências pela manhã e à tarde.
Imagine, estimado leitor, se se tratasse de réus presos em outras unidades da federação!
Bom, aí não tinha jeito mesmo! Ou se fazia a instrução sem o acusado, correndo todos os riscos de uma nulidade, ou, simplesmente, os processos ficavam sobrestados, até que, um dia, fosse possível a remoção do preso. Como quase nunca era possível, a solução era revogar a sua prisão, vez que não podiam ficar presos indefinidamente, sem que fossem julgados.
De regra, colocado o acusado em liberdade, ele tomava rumo ignorado.
Mas como toda regra comporta exceção, eu vivenciei, nesse sentido, um caso emblemático – e diferenciado.
Pois bem. Um cidadão, preso em São Paulo, em face de um decreto de prisão preventiva da minha lavra, teve que ser colocado em liberdade, simplesmente porque, como sói ocorrer, nunca foi removido para esta comarca.
Revoguei a sua prisão, na esperança de que, em liberdade, comparecesse a juízo, spont sua, já que, dependesse do Estado, ele jamais seria removido.
Surpreendentemente, o réu, que poderia, a exemplo de tantos outros, tomar paradeiro incerto, se apresentou em juízo, levados pelos seus próprios pais.
Vejo, agora, que a Lei 12.403/2011, estabelece que, preso o acusado, em outra unidade da federação, caberá a autoridade processante – e que decretou a prisão, claro – providenciar a sua remoção, no prazo máximo de trinta dias, contados da efetivação da medida(artigo 289, §§ 2º e 3º, do CPP, com nova redação)
O legislador, na seu proverbial delírio, só esqueceu de dizer como e com quais recursos se viabilizará a remoção.
Eu me arrisco a dizer que, fora alguma excepcionalidade, tudo continuará como dantes, ou seja, os presos na mesma unidade jurisdicional não serão apresentados a tempo e hora, e os presos em outras unidades da Federação, via precatória, jamais serão removidos no prazo de trinta dias.
Para mim será um alento de forem removidos antes de fluir, por inteiro, o prazo prescricional.
É esperar para ver.
Infelizmente Excelência, o Senhor está simplemente certo.
Como dizia o “falecido” Boris Casoy: ISSO É UMA VERGONHA!
Ainda dizem que nosso país tem jeito, o legislador sempre esquece algo
Dr. Raffael Benassi – Sou Advogado e como tal posso dizer que esta lei contribuirá para o aumento da impunidade e da criminalidade. Digo isso com propriedade, pois os bandidos têm liberdade de conversarem com os Advogados e se abrirem, e não existem profissionais melhores do que nós para sabermos do que um criminoso é capaz de fazer para conseguir consumar o crime. Sou apaixonado pela Advocacia criminal, mas não sou hipócrita, o crime vem aumentando consideravelmente no Brasil e uma Lei como essa só vem a chancelar o criminoso e o seu lucro fácil. Quem vai sofrer com tudo isso será a sociedade, o pai de família, o trabalhador e pessoas de bem.
Quem viver verá.