As revistas semanais publicam novas matérias dando conta do desvio de conduta de nossos homens públicos.
Desde sempre tem sido assim. E não se vê a sociedade organizada esboçar nenhuma reação. Parece que estamos todos anestesiados.
É preciso reagir, no entanto.
É inaceitável que a maioria dos brasileiros viva enfrentando toda sorte de dificuldades – mas dignamente -, enquanto uma minoria desavergonhada aparelhe o Estado para surrupiar verbas públicas, sem nenhuma cerimônia, sem receio, sob os olhares complacentes de muitos.
Enquanto isso, a saúde e a educação, para ficar apenas os dois exemplos mais eloquentes, estão um caos.
Essa situação de verdadeiro descalabro não pode continuar.
Acho que nós, magistrados, bem que poderíamos, pelo menos, manifestar, publicamente, a nossa indignação.
E que fique claro: eu não absolvo os que, sob a toga, usam dos mesmos expedientes.
É uma vergonha, da mesma forma, um magistrado se valer da sua condição, do cargo que exerce, para dele tirar proveito, para enriquecer ilicitamente.
Um magistrado, ainda que seja um mágico das finanças, não tem como, com o salário que ganha, ostentar sinais exteriores de riqueza; a menos que, antes do ingresso, já a tivesse amealhado.
Quem ingressa na magistratura pobre, tem que dela sair pobre. Se ocorre o inverso, é preciso questionar.
O que um magistrado percebe a título de remuneração, dá,sim, para viver com dignidade, confortavelmente. Não dá, todavia, para enriquecer, para esnobar, ostentar, como se fora um novo rico.
Tenho dito que ao magistrado não basta ser honesto; tem, no mesmo passo, que parecer honesto.
Aliás, nessa questão pareço até um sambista de uma nota só, pois de há muito tenho externado a minha posição em torno dessas questões.
O homem público que se vale do cargo para enriquecer ilicitamente é tão ou mais perigoso, tão ou mais repugnante, tão ou mais execrável que um meliante que não hesita em subtrair os bens de um incauto cidadão, mediante ameaça ou com a prática de violência.