Estamos espiritualmente em festa com a vitoria de nossa filha no exame da OAB; espiritualmente, sim, pois as nossas comemorações são sempre silenciosas, quase imperceptíveis aos estranhos. Em face da nossa esquisita maneira de ser, as comemorações são apenas manifestações da nossa alma. Nós nunca sentimos a necessidade de divulgar as nossas conquistas, de bater tambores ou de badalar os sinos; a não ser, claro, a uns poucos amigos e parentes. Tudo muito discreto! Sem estardalhaços! Sem zumbidos! Tudo intramuros! Do jeito que gosto; como todos gostamos.
É óbvio que tudo isso soa estranho. Mas somos assim mesmo. Nos satisfaz um breve aceno, um breve telefonema, um e-mail ou telegrama. Nos contentamos com as manifestações discretas. Tudo muito simples, como, afinal, é nossa família. Mas, convém assinalar, não deixamos de comemorar. Da nossa maneira, no nosso estilo, quietinhos, em nosso mundo; no mundo que é nosso, mas não é só nosso, embora pareça só nosso, conquanto o dividamos com os mais próximos.
A nossa filha, Ana Paula Almeida, reafirmo, logrou aprovação no cada vez mais temido exame da Ordem dos Advogados do Brasil.
Como todas as nossas conquistas, tudo foi muito doído e sofrido. Mas valeu a pena! Sofremos juntos, choramos juntos e juntos comemoramos, reafirmando, nesse episódio, a força da nossa família, a importância de estarmos unidos em todas as circunstâncias, de nos amarmos, de nos querermos bem.
Diante de episódios desse matiz, tenho aproveitado para reafirmar para os meus filhos que isso é apenas o começo, afinal o caminho natural de acesso ao serviço público, próximo passo dela e do irmão, é pela via do concurso, a exigir ainda mais dedicação e desvelo – e mais solidariedade, mais amor e compreensão.
Registro, com um pouco de vaidade (benfazeja, anoto) que dos concorrentes, apenas 01 em cada 10, obteve êxito, o que torna a vitória ainda mais relevante – pelo menos aos olhos dos pais, que acompanhamos a luta e sofrimento de Ana Paula para alcançar esse desiderato, depois de inevitável insucesso inicial, decorrente de equívocos ( que, espero, não mais se repetirão) praticados ao longo de sua agora vitoriosa luta.
Agora é bola pra frente! A luta pela sobrevivência num mundo de competição é renhida mesmo. Tudo ainda está por construir. A competição, daqui para frente, será cada vez mais difícil. Nada cairá do colo dos meus filhos como por encanto. Tudo, para eles, está por fazer. Quero ter saúde e vida para testemunhar as suas honestas e éticas conquistas.
Muitos concursos virão e eles precisam ser enfrentados com a mesma garra e determinação, afinal estou – estamos, aliás – entre os que valorizam essa forma de acesso ao serviço público.
Aproveito a ocasião para reafirmar a minha convicção de que o exame de ordem deve permanecer, e de que o ensino jurídico no Brasil precisa, sem mais demora, de uma reaviliação urgente.
O mercado de trabalho, tenho dito aos meus filhos, só absorve os profissionais altamente qualificados. Nos dias de hoje, tenho chamado a sua atenção, não basta ser bem qualificado; tem que estar acima da média, tem que ser ótimo profissional, tem que ter excelente qualificação, sob pena de não alcançar êxito nas suas empreitadas.
Espero que meus filhos compreendam que o caminho que tenho mostrado a eles é o melhor caminho, conquanto seja, no mesmo passo, o mais difícil. Eu não usarei da minha influência (que, afinal, é nenhuma), eles sabem disso, para colocá-los em cargos públicos. Eles sabem que devem conquistar o seu espaço, construir a sua própria história, enfrentando as mesmas dificuldades que enfrenta o cidadão que não tenha um pai influente.
O legado que pretendo deixar a eles é tão somente a minha história, da qual espero que eles jamais tenham motivos para se envergonhar.
É isso.